A valorização recente das commodities elevou os termos de troca do Brasil e fortaleceu a balança comercial. No entanto, essa alta também intensificou os riscos inflacionários. Como resultado, debates sobre a condução da política monetária pelo Banco Central foram reacendidos.
De acordo com analistas, o atual “boom das commodities” traz ganhos significativos para setores exportadores. Acima de tudo, impulsiona receitas e reduz o risco-país. Ainda assim, o impacto não é unilateral: a alta mexe no câmbio e eleva os custos em insumos importados. Por isso, pressiona o IPCA e restringe espaço para cortes nos juros.
A valorização das commodities agrícolas, minerais e energéticas gera dois efeitos principais. Em primeiro lugar, exportadores ganham margem e receitas. Em contrapartida, empresas que dependem de combustíveis, fertilizantes e insumos internacionais enfrentam maiores custos. Sem dúvida, o efeito completo sobre a inflação doméstica depende do grau de repasse e da resposta da taxa de câmbio.
Pesquisas da FGV indicam que aumentos nos preços de commodities têm impacto líquido positivo sobre a inflação brasileira, apesar de o câmbio atuar como amortecedor parcial desse repasse. Em outras palavras, o aumento dos termos de troca costuma valorizar o real, o que suaviza a pressão inflacionária, mas não a elimina por completo.
O que os números indicam?
Os preços ainda elevados de commodities reforçam a inflação de custos no Brasil, especialmente via transporte, energia e fertilizantes. Embora parte desses impactos seja compensada pela valorização do real, a pressão sobre os preços administrados e os alimentos permanece relevante no curto prazo.
Esse movimento de preços representa desafio adicional ao Banco Central. Por um lado, a trajetória de aperto monetário pode se estender. Por outro lado, torna-se mais cautelosa, já que a inflação ligada à alta das commodities requer manutenção dos juros em níveis elevados a fim de conter repasses de custos.
Investidores devem monitorar com atenção os movimentos de câmbio e dos preços das commodities. Uma vez que o real se desvalorize, os efeitos inflacionários podem se amplificar, obrigando o Copom a postergar cortes na Selic, mesmo que a atividade doméstica desacelere.
Ao mesmo tempo, o cenário beneficia empresas exportadoras e o superávit comercial, criando uma dinâmica de ganhos externos simultaneamente com tensões internas. Em virtude de tal dilema, reforça-se a importância de acompanhamento próximo das variáveis macroeconômicas.
Em conclusão, o próximo Copom deverá considerar esse contexto para calibrar a fase de normalização monetária. Nesse sentido, o balanço entre crescimento e estabilidade de preços será testado nos próximos meses.