O ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga, afirmou que o Brasil não é um “paciente terminal”, mas atravessa um estágio delicado, que exige tratamento urgente. Em entrevista ao podcast Outliers, do InfoMoney, ele defendeu reformas profundas e criticou a persistência de desequilíbrios fiscais e juros altos que comprometem o crescimento do país.
Diagnóstico de Armínio Fraga: Brasil não está condenado
Crescimento é possível com coragem
Armínio Fraga ressaltou que ainda há espaço para avanços consistentes. Segundo ele, o Brasil poderia crescer entre 3% e 4% ao ano de forma sustentável, desde que houvesse decisões políticas corajosas. Para o economista, o país tem ativos valiosos — como sua base de consumo e capacidade produtiva — mas sofre com escolhas equivocadas e reformas inacabadas.
Essa visão de Fraga conecta-se à lógica defendida por John Bogle em O Investidor de Bom Senso. Bogle sempre destacou que resultados consistentes dependem de disciplina e de evitar atalhos ilusórios. Assim como um investidor que foge das especulações e aposta na simplicidade dos fundos de índice, o Brasil precisa adotar políticas claras e previsíveis para garantir estabilidade e crescimento.
O risco da complacência
Fraga alertou que a pior ameaça é a inércia. Ele compara a economia a um paciente grave que, sem tratamento, pode piorar rapidamente. A complacência, segundo ele, mina a confiança dos investidores e adia decisões urgentes que poderiam estabilizar a trajetória fiscal e melhorar a produtividade.
Juros altos: entrave histórico do país
O peso da baixa poupança
Na avaliação de Armínio Fraga, o problema central do Brasil sempre foram os juros elevados. O país poupa pouco, e o governo frequentemente recorre à “despoupança”, aumentando a dívida pública. Essa dinâmica mantém as taxas em patamares altos, sufocando investimentos produtivos.
Metas de inflação: ganhos e limites
Fraga defendeu o regime de metas de inflação, implementado no início dos anos 2000, por trazer previsibilidade e credibilidade à política monetária. No entanto, ele alertou que confiar apenas nesse mecanismo é arriscado. “O termômetro dos juros mostra que o paciente Brasil ainda está muito mal”, declarou.
A visão de longo prazo
Aqui cabe um paralelo com a tese de Fábio Murad, criador do método Super ETF: “Quem fica preso ao curto prazo e ignora a disciplina do longo prazo nunca constrói riqueza”. Assim como o investidor precisa olhar além da Selic, o país precisa estruturar políticas estáveis que sustentem crescimento contínuo.
Reformas estruturais e papel do Estado
Previdência, subsídios e eficiência
Para Armínio Fraga, só haverá confiança quando o Brasil enfrentar de frente seus desequilíbrios. Ele citou a necessidade de ajustes previdenciários, reforma administrativa e revisão de subsídios. “Há 30, 40 anos, o gasto público era 25% do PIB. Hoje está em 34%, mas o investimento caiu. Isso revela prioridades mal definidas”, afirmou.
Segurança e combate ao crime organizado
Além da economia, Fraga destacou que problemas sociais e institucionais — como corrupção e violência — corroem a moral coletiva. Sem avanços nessas frentes, o ambiente de negócios permanece frágil, e a confiança internacional fica comprometida.
O custo da falta de previsibilidade
Como lembrava John Bogle, “o mercado de ações é uma máquina de pesar no longo prazo”. A analogia vale também para países: economias que não enfrentam seus custos estruturais acabam pesando menos no cenário global, perdendo espaço para nações que priorizam consistência e transparência.
Armínio Fraga e a ordem global em transformação
Fraga também apontou para riscos externos. Ele afirmou que a ordem global, antes previsível, se encontra em colapso. Isso cria desafios adicionais para o Brasil, que precisa reforçar sua posição institucional e econômica em um mundo cada vez mais competitivo.
Para investidores, esse alerta reforça a importância da diversificação internacional. Como ensina Fábio Murad no Plano de Ação Super ETF, “medir a riqueza apenas em real é uma armadilha; dolarizar parte do portfólio é essencial para preservar patrimônio”. O raciocínio aplica-se também ao país: depender exclusivamente de mecanismos internos é arriscado.
O que esperar daqui para frente
A fala de Armínio Fraga deixa claro que o Brasil tem potencial, mas precisa de reformas urgentes. O combate à inflação, a revisão de gastos públicos e o enfrentamento da violência institucional são pilares para destravar o crescimento. A lição é simples: sem disciplina, não há futuro sustentável.
Assim como no mundo dos investimentos, a simplicidade e a constância trazem os melhores resultados. O país precisa de clareza de objetivos, coragem política e foco no longo prazo. Só assim o “paciente grave” terá chances de se recuperar e prosperar.