sábado, 27 de abril de 2024
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Finanças Descomplicadas

Eli Borochovicius

Eli Borochovicius é professor de finanças e coordenador da Liga de Mercado Financeiro e de Capitais na PUC-Campinas, palestrante, colunista do quadro Descomplicando a Economia da Rádio Brasil Campinas e criador das tirinhas de educação financeira e empreendedora EconoNina & EmpreendeDóra. Administrador, Doutor e Mestre em Educação pela PUC-Campinas, com estágio doutoral na Macquarie University (Austrália). Possui MBA pela FGV/Babson College (Estados Unidos) em Gestão e Pós-Graduação na USP em Política e Estratégia. Acumulou mais de 20 anos de experiência na área financeira, tendo ocupado o cargo de Diretor Financeiro em empresa High Tech em Israel. Possui artigos científicos Qualis-Capes A1 e A2 publicados.

O que vem do outro lado do mundo?

Os indicadores econômicos da China podem ter provocado o efeito tobogã na bolsa de valores brasileira.

25 agosto 2023 - 14h04
O que vem do outro lado do mundo?

A China é o mais relevante parceiro comercial do Brasil. Em 2022 exportamos quase 90 bilhões de dólares, 140% acima do valor exportado para os Estados Unidos, nosso segundo parceiro mais significativo. Nesse ano, foram quase 60 bilhões exportados para a China, 180% acima do que exportamos para os estadunidenses.

Com as importações não foi diferente. No ano passado importamos mais de 60 bilhões de dólares da China e 50 bi dos Estados Unidos. Em 2023 já foram quase 30 bilhões importados, próximo de 30% acima do valor do país presidido por Joe Biden.

Os indicadores econômicos da república comunista governada por Xi Jinping há uma década, no entanto, tem decepcionado o mercado financeiro e gerado preocupações na bolsa de valores brasileira.

Embora o crescimento do PIB chinês tenha sido de 6,3% no trimestre, ante 4,5% no período anterior, a expectativa do mercado era mais alta (6,9%). Houve desaceleração na produção industrial, avançando somente 3,7% em relação ao mesmo período de 2022 e a taxa de desocupação subiu para 5,3%.

As vendas no varejo cresceram (3,1%), mas também abaixo do que era esperado pelo mercado. Por outro lado, a inflação está controlada, a taxa de juros caiu para 3,45% e recentemente o país aumentou as suas reservas internacionais e reduziu a dívida externa.

O governo deve aplicar medidas com o objetivo de estabilizar o mercado imobiliário, estimular a emissão de dívidas, dando dinamismo para a economia e com isso, ser capaz de cumprir com a meta de crescimento estipulada em 5% para esse ano.

As incertezas que pairam sobre o crescimento econômico chinês, no entanto, prejudicam os ativos de risco em todo o mundo, afetando também as empresas da nossa bolsa de valores.

Instituições brasileiras dependem economicamente da China e são sensíveis ao que acontece do outro lado do mundo, a exemplo de empresas como Vale (VALE3) e Petrobras (PETR3)(PETR4), significativas na composição do Ibovespa.

Nesse mês de agosto, o principal índice da B3 registrou uma sequência de baixas que não se via desde a década de 1980: foram 12 pregões seguidos no vermelho. No início do mês registrou 121,2 mil pontos e no dia 21 não ultrapassou os 115 mil.

De qualquer forma, no que diz respeito à recuperação do índice, ainda há otimismo entre os economistas com expectativa de encerrar o ano aos 120 mil pontos e alguns deles, apostando inclusive na projeção de 130 mil.

Os chineses tinham uma perspectiva de melhora no cenário econômico pós-pandemia somente para o final do ano, quando seria recuperada a confiança da população e consequente ampliação no consumo das famílias. O ocidente, no entanto, pode ter antecipado demais as expectativas positivas e excedido no otimismo das análises com a recuperação chinesa, gerando frustração do mercado e preocupações, possivelmente artificiais.

O cenário chinês movimentou o mercado brasileiro, mas o país ainda tem muitas outras preocupações: ampliação dos juros nos Estados Unidos e o arcabouço fiscal, que gera impacto na política monetária.

A opinião e as informações contidas neste artigo são responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, a visão da SpaceMoney.