É comum que discussões sobre Open Finance apareçam na imprensa com foco nos benefícios do modelo para as próprias instituições financeiras, que poderão usar dados para oferecer soluções personalizadas a seus clientes e expandir sua base de potenciais consumidores, e para o usuário final, que deverá contar com produtos melhores em esferas como crédito e gerenciamento de finanças pessoais.
Mas, enquanto estamos falando muito sobre o crédito para pessoas físicas enquanto mercado, é importante ligar os radares para o mundo PJ, que tem muito a ganhar com o novo modelo. E é possível que vejamos disrupções significativas no comando das finanças para este setor conforme o Open Finance avança.
Hoje, assim como no universo da pessoa física, os grandes bancos ainda dominam o mercado PJ no Brasil: para um banco tradicional, sua principal vantagem costuma ser o nível de conhecimento do usuário – há empresas que estão com as mesmas instituições há décadas, e este conhecimento do histórico financeiro possibilita, por exemplo, o oferecimento de empréstimos a taxas mais amigáveis ou melhores linhas de crédito
Há um player, porém, que conhece ainda melhor as finanças das empresas: os software de ERP. Eles não apenas têm acesso às transações de seus clientes, mas também aos balanços, vendas, conta de resultados e outras informações relevantes. Com mudanças recentes, como a alteração na regulação a respeito da liberação de recebíveis, e a chegada de produtos por players de Open Finance com a capacidade de resgatar dados históricos desta fonte, este potencial se torna ainda maior.
É provável que vejamos um movimento relevante de players de ERP que passem a se tornar financeiras. Com soluções de Banking as a Service, poderão até se tornar ”bancos”de fato.
Imagine o potencial: um software de ERP, que conhece sua empresa como nenhum outro player no mercado financeiro, passa a oferecer, por exemplo, o serviço de iniciação pagamentos diretamente pela plataforma. Se isso já é revolucionário para pequenas e médias empresas em termos de praticidade, a possibilidade de movimentar dinheiro e gerenciar o que pode chegar a milhares de contas a partir de uma única plataforma terá um valor nunca antes visto para diretores financeiros de grandes empresas.
Para os pequenos empresários, além de ter acesso a software com maior poder de agregação de dados e que facilitarão desde o processo de coleta de informações até soluções de pagamentos, a oportunidade de melhor acesso a crédito também terá um impacto inédito conforme ERPs e instituições financeiras se tornem mais sofisticados e agreguem dados de fontes como maquininhas de cartão.
Sabemos que pequenos e médios negócios sofrem muito com a falta de acesso a financiamentos adequados no país, e com informações vindas desta fonte, um lender conseguirá ver todo o comportamento de pagamento de um varejista, sofisticando muito sua análise de crédito.
Os ERPs têm uma oportunidade única diante de si para consolidar seus negócios com um produto muito mais sofisticado e que se tornará indispensável para empresas de todos os tamanhos. Para bancos, a janela de oportunidades de agregar serviços do tipo a seu portfólio e poder contar com a riqueza de informações dessas fontes também está aí. Com certeza veremos movimentações interessantes nesse cenário.
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