Painel da B3 mostrando queda do Ibovespa com incerteza fiscal no Brasil.
Painel da B3 reflete queda do Ibovespa em dia de incerteza fiscal e política. (Fonte: Gemini Pro)

O Ibovespa opera em queda nesta quinta-feira (16), seguindo na contramão do movimento positivo das bolsas de Nova York, pressionado por incertezas fiscais e tensões políticas no Brasil. Às 11h03, o índice recuava 0,34%, aos 142.118 pontos, após atingir mínima de 141.445 pontos.

Enquanto isso, os principais índices norte-americanos avançam com o otimismo em torno de novos cortes de juros pelo Federal Reserve (Fed) ainda em 2025. O petróleo sobe, mas o minério de ferro caiu 0,9% na China, pressionando as ações da Vale (VALE3), que recuavam 0,94%. Petrobras (PETR4) também operava em baixa, mesmo com leve alta da commodity.


Tensão fiscal volta ao radar

A instabilidade fiscal voltou ao centro das atenções após o TCU suspender a decisão que definia o centro da meta fiscal como referência para o contingenciamento de gastos públicos. A medida reacendeu dúvidas sobre o controle das contas do governo e a consistência da política econômica.

Além disso, o Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, apresentou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva novas propostas para compensar a perda de arrecadação com a derrubada da MP que elevaria o IOF. Parte das medidas deve ser reapresentada na forma de projetos de lei.

Segundo Bruna Sene, analista da Rico, “o mercado segue desconfortável com o tema fiscal. A decisão do TCU adiciona risco e aumenta a cautela dos investidores domésticos”, afirmou à reportagem.


Atividade econômica desacelera

Na agenda de indicadores, o IBC-Br — prévia do PIB calculada pelo Banco Central — subiu 0,40% em agosto, abaixo das projeções de alta de 0,70%. O resultado indica desaceleração da atividade e reforça a visão de que não há espaço para corte da Selic neste ano.

Para Patrick Buss, da Manchester Investimentos, o dado mostra “que o aumento dos juros tem efeito sobre a economia, mas também evidencia que o crescimento segue abaixo do esperado”.


Ambiente político adiciona volatilidade

No campo político, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), cancelou a sessão do Congresso que analisaria os vetos à Lei Geral do Licenciamento Ambiental, a pedido da liderança do governo. A decisão reforçou a percepção de paralisia nas pautas econômicas e ambientais.

Em paralelo, o Ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, se reúne nesta tarde com o Secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, em Washington, para discutir os impactos do chamado “tarifaço” sobre exportações brasileiras.


Especialistas reforçam alerta sobre risco local

Para Álvaro Bandeira, da Apimec Brasil, o cenário local combina “cautela fiscal e tensão política”, o que pode limitar o espaço de recuperação do Ibovespa nas próximas semanas.

O CEO da SpaceMoney e criador do método Super ETF, Fábio Murad, avalia que a instabilidade fiscal reforça a importância da diversificação global.

“Quando o investidor se concentra apenas no Brasil, ele assume o risco de um sistema fiscal frágil e politicamente instável. Dolarizar parte do portfólio é uma forma prática de proteção e crescimento”, afirma Murad.

A visão converge com os princípios do investidor John Bogle, criador dos ETFs e autor de O investidor de bom senso, para quem o sucesso no longo prazo depende de custos baixos, disciplina e diversificação internacional.


Perspectiva

Apesar da queda pontual, analistas destacam que o Ibovespa ainda acumula ganhos expressivos no trimestre, sustentado pelo fluxo estrangeiro e pela expectativa de redução da taxa Selic em 2026. No entanto, o cenário fiscal incerto e a instabilidade política seguem como fatores que limitam o apetite por risco no curto prazo.