Ilustração representa o potencial de valorização do setor de mineração no próximo ciclo econômico.
O setor de mineração volta ao radar em meio a um novo ciclo global de ativos reais. Reprodução: Gemini Pro

Enquanto o mercado financeiro segue amplamente concentrado em ações de tecnologia e narrativas já conhecidas, um segmento permanece à margem do interesse majoritário — apesar de apresentar alguns dos sinais mais claros de assimetria positiva para a próxima década: o setor de mineração, especialmente ligado a ouro e prata.

Os dados históricos, as relações de valuation e os ciclos anteriores sugerem que ações de mineradoras estão entre os ativos mais descontados do mercado global atualmente, em contraste com setores amplamente precificados e cada vez mais concorridos.

Não se trata de previsão otimista. Trata-se de desalinhamento estatístico.

Um setor esquecido em meio a ativos saturados

Nos últimos anos, o fluxo de capital global se concentrou de forma intensa em poucos segmentos, principalmente tecnologia. Esse movimento levou a múltiplos elevados, forte concorrência entre investidores e retornos futuros potencialmente comprimidos.

O setor de mineração seguiu o caminho oposto.

Ações de empresas mineradoras permanecem negociadas próximas às mínimas históricas quando comparadas ao preço do ouro, uma relação que, ao longo das últimas décadas, sempre se mostrou cíclica. Em outras palavras: enquanto o ouro avançou, as mineradoras ficaram para trás.

Historicamente, esse tipo de divergência não se sustenta por muito tempo.

A relação histórica entre ouro e mineradoras

Indicadores amplamente utilizados no mercado mostram que o índice de mineradoras de ouro e prata negocia hoje em níveis equivalentes aos piores momentos das últimas décadas quando ajustado pelo preço do ouro.

Em ciclos anteriores, sempre que essa relação retornou à média histórica, o movimento não foi marginal. Em vários episódios, o setor apresentou multiplicações relevantes de preço, impulsionadas não apenas pela valorização do metal, mas pelo efeito operacional alavancado das empresas de mineração.

Se essa normalização ocorrer novamente, o potencial de valorização é significativo — mesmo sem assumir novos picos no preço do ouro.

Comparação com o mercado acionário tradicional

Outro dado que chama atenção é a relação entre mineradoras e o mercado acionário amplo.

Quando comparadas a índices como o S&P 500, as ações de mineração estão entre as mais baratas do mundo em termos relativos. Essa discrepância ocorre em um ambiente no qual boa parte dos ativos financeiros tradicionais já precificam cenários bastante otimistas.

Em mercados maduros, oportunidades assimétricas costumam surgir exatamente onde o consenso ainda não chegou.

Um ciclo que tende a ser longo

Os grandes ciclos de valorização do setor de mineração não são curtos. Historicamente, eles se estendem por vários anos, acompanhando movimentos estruturais em política monetária, inflação, confiança nas moedas fiduciárias e investimento em ativos reais.

Há sinais de que o atual ciclo de metais preciosos ainda esteja em seus estágios iniciais, o que reforça a tese de que o maior movimento pode estar à frente, e não para trás.

Além disso, décadas de subinvestimento em exploração e produção criaram gargalos de oferta que não se resolvem rapidamente, ampliando o desequilíbrio entre oferta e demanda.

Assimetria: o ponto central da tese

O argumento central não é que mineradoras “precisam subir”.
É que o risco-retorno do setor parece profundamente desequilibrado a favor do investidor paciente.

Quando um ativo:

  • está barato em termos históricos,
  • é ignorado pela maioria do mercado,
  • apresenta fundamentos estruturais favoráveis,
  • e já passou por longos períodos de correção,

o resultado costuma ser um movimento abrupto quando o capital começa a migrar.

Esse é o tipo de dinâmica que constrói grandes ciclos — e grandes retornos — ao longo do tempo.

O papel da mineração em carteiras globais

Para o investidor, o setor não deve ser visto como aposta isolada, mas como componente estratégico dentro de uma alocação global bem estruturada.

A exposição pode cumprir múltiplas funções:

  • diversificação em relação a ações tradicionais;
  • proteção contra inflação e instabilidade monetária;
  • participação em um ciclo estrutural de ativos reais;
  • potencial de valorização assimétrica no longo prazo.

Em um mundo cada vez mais marcado por incerteza fiscal, dívida elevada e reconfiguração econômica, ativos reais voltam a ocupar espaço relevante nas carteiras globais.

A história dos mercados mostra que as maiores oportunidades raramente estão nos ativos mais comentados. Elas surgem, quase sempre, onde o consenso ainda não chegou — e onde os preços permanecem desalinhados dos fundamentos.

O setor de mineração reúne hoje muitos desses elementos.

Se a próxima década confirmará essa tese, apenas o tempo dirá. Mas os sinais que se acumulam indicam que ignorar completamente esse segmento pode ser um custo alto para o investidor global.