Ilustração de um touro representando o bull market e a estratégia com ETFs em 2026 para o investidor brasileiro
O bull market segue em 2026, mas exige estratégia, diversificação e uso inteligente de ETFs Reprodução: Gemini Pro

Entramos em 2026 com um paradoxo claro nos mercados. Lá fora, especialmente nos Estados Unidos, o bull market segue vivo, sustentado por crescimento de lucros, investimentos massivos em inteligência artificial e condições financeiras menos restritivas do que muitos imaginavam. Aqui no Brasil, por outro lado, convivemos com um ambiente estruturalmente mais frágil, marcado por desequilíbrio fiscal, juros reais elevados e um processo eleitoral que adiciona uma camada extra de incerteza.

O investidor brasileiro, portanto, não pode simplesmente importar a narrativa otimista global nem, tampouco, ignorá-la. O desafio de 2026 está justamente em somar esses dois mundos.

O bull market americano não nasceu ontem. Ele começou no fundo de outubro de 2022 e já acumula quase três anos de valorização relevante. Historicamente, isso não é um problema em si. Dados desde 1950 mostram que o quarto ano de um bull market costuma ser positivo, com ganhos médios relevantes e alta probabilidade estatística de continuidade. O ponto é que a natureza do ganho muda. O mercado fica mais seletivo, mais concentrado e menos tolerante a erros.

O grande motor desse ciclo segue sendo a inteligência artificial. Diferente de outros booms tecnológicos, o ciclo atual não é apenas de adoção de software, mas de infraestrutura pesada, com investimentos recorrentes em data centers, semicondutores, energia e redes. Isso sustenta crescimento de lucros acima da média histórica. As projeções apontam para expansão do lucro por ação do S&P 500 em torno de dois dígitos em 2026, mesmo após três anos fortes. Esse dado é central para entender por que o mercado segue de pé apesar dos múltiplos elevados.

Mas valuation importa. O S&P 500 negocia acima de 20 vezes lucro projetado, com indicadores ajustados pelo ciclo próximos de níveis historicamente desconfortáveis. Isso não significa colapso iminente, mas significa retornos mais assimétricos. O investidor não deve esperar que o mercado “perdoe” decisões mal tomadas como fez em fases iniciais do ciclo.

Outro ponto fundamental é a concentração extrema de performance. Um número pequeno de empresas responde por parcela relevante dos ganhos do índice. Esse tipo de liderança estreita costuma gerar duas consequências: aumento da volatilidade e, em algum momento, rotação. Small e mid caps começam a ganhar relevância justamente quando o crescimento de lucros se espalha pela economia. Para 2026, esse é um tema que merece atenção.

Agora, quando trago essa leitura para o Brasil, o contraste é evidente.

O desempenho de 2025 foi, em grande medida, um reflexo da queda do dólar global. O DXY saiu de níveis próximos a 110 para a região abaixo de 100, permitindo uma realocação de capital para emergentes. O real se fortaleceu, a bolsa subiu em pontos nominais e a sensação foi de recuperação. Mas quando analisamos o Brasil em dólar, o desempenho foi apenas mediano. O EWZ andou praticamente em linha com o MSCI de emergentes, ficando atrás de outros mercados periféricos.

Isso deixa claro que o Brasil surfou o ciclo global, mas não resolveu seus problemas internos.

E o principal deles continua sendo o fiscal. O debate sobre dívida pública no Brasil é frequentemente mal conduzido. O problema não é apenas o tamanho da dívida, mas o seu custo. Juros reais elevados, combinados com crescimento baixo, criam uma dinâmica insustentável no longo prazo. Essa conta não fecha por retórica. Fecha — ou não — por matemática.

É aqui que 2026 se torna um ano decisivo. O processo eleitoral adiciona volatilidade estrutural. Não se trata de ideologia, mas de expectativa. O mercado precifica probabilidades, rejeições e assimetrias. Episódios pontuais de estresse observados recentemente funcionam como ensaios do que pode se repetir várias vezes ao longo do ano. A volatilidade será recorrente, não episódica.

Esse ambiente torna a discussão sobre juros e duration especialmente relevante. Títulos longos indexados à inflação carregam riscos expressivos de marcação a mercado. Movimentos relativamente pequenos nas taxas podem gerar perdas significativas. Muitos investidores subestimam esse risco por associarem renda fixa a previsibilidade. Em 2026, errar no prazo pode custar mais do que errar no ativo.

Ao mesmo tempo, o cenário externo segue oferecendo suporte a commodities e ativos reais. O índice amplo de commodities caminha para fechar em níveis não vistos desde a década passada. Há uma clara diferenciação entre petróleo, que enfrenta uma dinâmica própria, e metais estratégicos ligados à eletrificação, infraestrutura e IA. Cobre, urânio e metais industriais seguem com fundamentos estruturais fortes.

Diante desse quadro — bull market global mais maduro, Brasil estruturalmente frágil e volatilidade política elevada — a pergunta central para o investidor brasileiro não é “onde ganhar mais”, mas como se posicionar sem assumir riscos desnecessários.

É aqui que os ETFs entram como ferramenta-chave.

Para o investidor brasileiro, 2026 exige diversificação real, não apenas nominal. ETFs permitem acessar o crescimento global sem a necessidade de escolher vencedores individuais em um mercado concentrado. Exposição a ações americanas continua relevante, mas deve ser feita com consciência de valuation e concentração. ETFs amplos reduzem o risco idiossincrático e capturam a tendência estrutural.

Ao mesmo tempo, ETFs internacionais fora dos Estados Unidos ganham importância relativa. Mercados desenvolvidos e emergentes com valuations mais razoáveis podem oferecer melhor relação risco-retorno em um ambiente de rotação. ETFs globais ajudam a diluir o risco de apostar em um único país ou narrativa.

Para o investidor brasileiro, ETFs de ouro e de commodities também cumprem um papel importante. Não como aposta direcional pura, mas como elementos de amortecimento em um portfólio exposto a risco político, fiscal e cambial doméstico.

Finalmente, é fundamental entender que 2026 não será um ano de decisões binárias. Não será o ano de “all in” nem de fuga total do risco. Será um ano de calibragem fina, de respeito ao risco e de construção de portfólios que sobrevivam à volatilidade.

Quem conseguir somar o bull market global com a realidade brasileira, usando ETFs como instrumento de disciplina e diversificação, terá muito mais chances de atravessar 2026 com consistência — e sem depender de previsões heroicas.