Imagem de George Washington com óculos exibindo o logo do Bitcoin em vermelho, representando a desvalorização do BTC.
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Mesmo após o Federal Reserve cortar os juros em 25 pontos-base, o Bitcoin não reagiu como o esperado. Em vez de subir com a melhora das condições financeiras — comportamento típico de ativos de risco —, a moeda digital recuou cerca de 2% e voltou para a região de US$ 90 mil, segundo dados do CoinGecko.

O que explica essa queda?

Especialistas apontam que a resposta está muito além do anúncio do Fed e reflete um cenário macroeconômico que o mercado já começa a precificar para os próximos meses.


O mercado não caiu por causa do corte — caiu porque o corte já era esperado

Tim Sun, pesquisador sênior do HashKey Group, afirma que a reação negativa não está ligada ao corte em si, mas à leitura de que o ambiente macro deve se tornar mais complexo, com menos espaço para novos estímulos.

Segundo ele:

“A queda do Bitcoin não é reação ao corte, mas ao mercado antecipando um cenário macroeconômico mais complicado. Os cortes estavam totalmente precificados.”

Ou seja: o mercado não ganhou nada novo com a decisão.


Fed sinaliza limite para novos cortes — e isso pressiona os ativos de risco

Apesar de Jerome Powell não ter adotado um tom agressivo, o dot plot mostrou que o Fed revisou para baixo as expectativas de cortes para 2026. Em resumo:

  • o ciclo de afrouxamento pode estar perto do fim,
  • o espaço para novos cortes diminuiu,
  • e o mercado agora trabalha com juros altos por mais tempo.

Isso reduz o apetite por risco e pressiona ativos sensíveis às taxas — como o Bitcoin.


2026: o ano que pode redefinir o risco macro nos EUA

Sun também destacou um fator pouco discutido, mas altamente relevante:
as eleições de meio de mandato de 2026, sob uma administração que exigirá:

  • política fiscal mais frouxa,
  • Fed mais dovish,
  • estímulo econômico para manter a atividade aquecida.

Essa combinação pode gerar o que ele classificou como:

“Um estímulo simultâneo fiscal e monetário.”

Algo raro — e potencialmente perigoso.


O risco da volta da inflação — o pior cenário para o Bitcoin

O analista alerta que essa mistura é:

“Altamente propensa a reacender a inflação, elevando novamente as taxas de longo prazo.”

E quando as taxas longas sobem, todo o mercado de risco sofre:

  • ações caem,
  • criptos recuam,
  • liquidez global diminui,
  • o custo de oportunidade aumenta.

O Bitcoin, sensível a esse movimento, fica sob pressão adicional.


IA, energia e infraestrutura: os novos vilões inflacionários

Além do risco fiscal, cresce a preocupação com o aumento dos gastos de capital em inteligência artificial, que já eleva custos de:

  • energia,
  • mineração de dados,
  • capacidade computacional.

Para Sun, esse movimento cria uma inflação mais persistente e “pegajosa”, reforçando a tese de que o Fed pode ser forçado a voltar a subir juros — ou ao menos manter níveis restritivos por mais tempo.


Sinais do Fed apontam cautela — e o mercado leu isso como um alerta

John Haar, diretor-gerente da Swan Bitcoin, destacou que o Fed usou uma linguagem restrita, prudente e preocupada com dados de emprego, inflação e atividade econômica. Além disso, chamou atenção para:

  • a primeira expansão relevante do balanço do Fed desde 2022,
  • compras de até US$ 40 bilhões em T-Bills,
  • reversão parcial do processo de aperto quantitativo (QT).

Para Haar, essas medidas reforçam que o Fed enxerga riscos estruturais — e o mercado cripto captou essa mensagem.