
A decisão dos bancos de oferecer aos Correios um empréstimo de R$ 20 bilhões a 136% do CDI, seguida pelo veto do Tesouro à garantia da União, marcou um ponto de tensão raro entre mercado e governo. A suspensão da operação jogou luz sobre aquilo que muitos economistas já apontavam, mas que Charles Mendlowicz, um dos nomes mais respeitados do país em finanças pessoais e economia prática, verbalizou com precisão: o problema é estrutural, não conjuntural.
A estatal acumula R$ 6 bilhões de prejuízo apenas em 2025, quase o triplo do resultado negativo de 2024. A receita caiu, as despesas explodiram com precatórios e, enquanto isso, Amazon e Mercado Livre avançam com estruturas logísticas próprias, mais eficientes e mais rápidas. O cenário é adverso — e o crédito caro apenas revela a ponta de um iceberg antigo.
Para Mendlowicz, a suspensão da operação pelo Tesouro foi correta. Em suas palavras, emprestar recursos a custos tão altos seria apenas “tapar buraco” e adiar, mais uma vez, o enfrentamento do verdadeiro desafio: a incapacidade da estatal de competir em um mercado onde eficiência não é opcional. “A União somos nós”, lembra o economista, ressaltando que o contribuinte seria o fiador final caso a estatal não honrasse o pagamento.
Sua análise ecoa um ponto central da filosofia de John Bogle, fundador da indexação moderna: “os custos são implacáveis” . Se até um ETF de alta eficiência perde retorno quando carrega custos desnecessários, imagine uma estatal pesando sob dívidas, gordura administrativa, competição agressiva e queda de receita. A matemática não perdoa — nem no mercado, nem na gestão pública.
Esse é um princípio que reforço frequentemente — como autor do método Super ETF — quando analiso empresas e estratégias: sistemas ineficientes consomem valor de forma acelerada . O que Mendlowicz faz, com rara clareza, é aplicar essa lógica ao setor público. E poucos conseguem traduzir economia com tanta neutralidade e precisão para milhões de brasileiros.
O fato é que o risco não está apenas no juro pedido pelos bancos. Está na deterioração contínua de um modelo que não acompanha o ritmo do mercado. O empréstimo não é a solução — seria apenas mais um adiamento. Como afirmou Mendlowicz, a saída exige decisões duras: saneamento, reestruturação e, se necessário, venda de partes da operação.
É exatamente esse tipo de debate — pragmático, direto e baseado em dados — que o Brasil precisa ouvir. E é também o tipo de conversa que queremos aprofundar aqui na SpaceMoney, discutindo eficiência, gestão, dinheiro público e, principalmente, o impacto disso tudo no bolso do investidor brasileiro.
Os Correios não podem perder mais tempo. O país, tampouco.