
Após acumular queda superior a 13% em 2025, chegando à faixa dos R$ 5,30, o dólar iniciou dezembro com movimento de recuperação e fechou o primeiro pregão do mês em R$ 5,36, alta de 0,43% ante o real. A valorização ocorreu em meio ao aumento da demanda por moeda americana para remessas ao exterior, um fluxo sazonal típico do fim do ano.
Segundo operadores, empresas e fundos buscam enviar recursos como lucros, dividendos e pagamentos internacionais, o que eleva a procura por dólar no mercado doméstico e pressiona a cotação para cima .
Pressão sazonal deve persistir durante dezembro
Marcos Weigt, diretor de Tesouraria do Travelex Bank, afirma que a pressão vista no início do mês pode se estender até o fim de dezembro. Ele destaca o crescimento da demanda por dólar “spot” — usado para liquidação imediata — característica comum em períodos de remessas corporativas.
Segundo o executivo, esse movimento já aparece na abertura do cupom cambial de curto prazo, indicando que o mercado antecipa maior necessidade de moeda americana nas próximas semanas.
Ainda assim, Weigt não vê espaço para uma disparada:
“Não vejo uma alta muito grande do dólar. O Banco Central tende a intervir se houver distorções.”
BC pode atuar com linhas de dólar e “casadão”
Analistas esperam que o Banco Central mantenha a estratégia tradicional para momentos de maior pressão cambial, incluindo:
- rolagem e ampliação de linhas de dólar com compromisso de recompra;
- oferta adicional de moeda no mercado à vista;
- operações combinadas com swap cambial reverso, movimento apelidado de casadão.
A autoridade monetária reforçou que só intervém quando há sinais de disfuncionalidade no câmbio.
Câmbio também reage ao cenário internacional
O dólar global (índice DXY) recuou levemente para a região dos 99,400 pontos, após dados mais fracos da indústria dos EUA. O PMI industrial americano caiu para 48,2 em novembro, abaixo da expectativa de 49,2, reforçando a tese de desaceleração econômica.
Enquanto isso, o iene subiu mais de 0,40%, após o presidente do Banco do Japão, Kazuo Ueda, indicar a possibilidade de alta de juros na próxima reunião do BoJ. Uma elevação na taxa japonesa pode desencadear desmontes de operações de carry trade, o que reduz o apetite por moedas emergentes como o real e o peso colombiano.
Sinalizações do Fed apoiam moedas emergentes
Apesar da pressão sazonal, há fatores que favorecem o real. O mercado passou a apostar com mais confiança em um corte de 25 pontos-base na taxa básica americana na reunião da próxima semana. Dirigentes do Fed vêm adotando tom mais brando nas últimas semanas, indicando disposição em reagir a deteriorações nas condições financeiras.
Para Eduardo Aun, gestor multimercado da AZ Quest, o impacto da política japonesa sobre moedas da América Latina tende a ser pequeno:
“A sinalização recente do Federal Reserve favorece moedas emergentes, que podem ter desempenho positivo até o fim do ano, ainda que sem grandes movimentos.”
O que esperar para dezembro?
Com forças opostas atuando simultaneamente, o câmbio entra no último mês do ano sob uma combinação de:
- pressão sazonal por remessas ao exterior;
- apoio internacional por parte do Fed;
- possível atuação do Banco Central, caso necessário.
A expectativa predominante entre analistas é de oscilação controlada, sem rupturas na trajetória recente do real — mas com maior volatilidade ao longo das próximas semanas.