Donald Trump e Javier Milei durante anúncio de swap de US$ 20 bilhões entre EUA e Argentina em outubro de 2025.
Donald Trump e Javier Milei reforçam parceria com acordo de swap de US$ 20 bilhões entre EUA e Argentina. (Gemini Pro)

A seis dias das eleições legislativas na Argentina, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, confirmou um swap cambial de US$ 20 bilhões com o governo de Javier Milei. O acordo, anunciado na manhã desta segunda-feira (20), reforça as reservas internacionais argentinas e sinaliza apoio político explícito de Washington à atual gestão.

O montante será disponibilizado por meio de uma linha direta entre o Tesouro norte-americano e o Banco Central da República Argentina (BCRA), com duração inicial de 12 meses e possibilidade de renovação. O objetivo é dar liquidez ao sistema financeiro argentino, estabilizar o peso e conter a pressão sobre os títulos soberanos em dólar.


Contexto: crise e eleições decisivas

O anúncio ocorre em um momento crítico para o governo Milei, que enfrenta inflação anual acima de 190%, queda do PIB e instabilidade social. A eleição legislativa de 26 de outubro é vista como um plebiscito sobre as reformas liberais do presidente, que tenta consolidar maioria no Congresso para avançar em privatizações e ajustes fiscais.

Nos bastidores, o acordo com os EUA é interpretado como um gesto de confiança internacional, num contexto em que o país ainda busca reabrir linhas de crédito com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e investidores privados.

O peso argentino, que vinha em trajetória de desvalorização contínua, reagiu positivamente ao anúncio, registrando alta de 3,4% no câmbio paralelo. Os títulos soberanos em dólar também subiram, enquanto o risco-país recuou 120 pontos, para a casa dos 1.480 pontos-base.


Impacto nos mercados e nas relações EUA–América do Sul

Analistas apontam que o swap de Trump com Milei marca uma mudança geopolítica relevante na região, com os Estados Unidos tentando conter a influência financeira da China, que nos últimos anos vinha ampliando acordos de crédito com países latino-americanos.

A China, por exemplo, mantinha até então uma linha de swap ativa de US$ 18 bilhões com a Argentina, firmada durante o governo de Alberto Fernández. O novo acordo com Washington pode substituir gradualmente a dependência chinesa, fortalecendo o alinhamento de Buenos Aires com os EUA.

O movimento também tem reflexo político. Trump, que busca reeleição em 2026, usa a parceria com Milei como vitrine internacional de uma agenda econômica liberal, defendendo desburocratização e redução de impostos. O governo argentino, por sua vez, ganha fôlego para anunciar medidas de estabilização cambial e atrair novos fluxos de investimento externo.


Reação dos investidores brasileiros

No Brasil, o mercado financeiro acompanhou o anúncio com atenção. O dólar comercial terminou o dia em R$ 5,38, praticamente estável, enquanto o Ibovespa avançou 0,46%, refletindo o otimismo com o ambiente regional.

Empresas com exposição à Argentina, como Marcopolo (POMO4), Raízen (RAIZ4) e Banco do Brasil (BBAS3), registraram ganhos no pregão, impulsionadas pela perspectiva de maior estabilidade no país vizinho.


O que esperar a seguir

Com o swap em vigor, o governo Milei deve usar parte dos recursos para intervenções graduais no mercado de câmbio e rolagem de dívidas em moeda estrangeira. Nos próximos dias, o BCRA deve detalhar o cronograma de desembolsos e as condições de remuneração da linha, que terá juros indexados à taxa americana SOFR.

O sucesso da operação dependerá da confiança dos investidores e da capacidade de Milei de avançar nas reformas econômicas após as eleições.