Ilustração de cédula de dólar sobreposta por gráfico financeiro com linhas e candles, simbolizando a volatilidade e o enfraquecimento da moeda americana no mercado global.
O enfraquecimento do dólar redefine o fluxo global de capitais e abre oportunidades para investidores diversificados (Fonte: IA)

Escrevo este texto com a mesma inquietação que sempre me moveu no mercado financeiro: entender as transformações de longo prazo que moldam o comportamento do capital global e, mais importante, como o investidor pode se posicionar de forma inteligente diante delas. O enfraquecimento do dólar é, sem dúvida, uma dessas mudanças estruturais que merecem atenção e reflexão cuidadosa.

Quando falo em desdolarização, não me refiro ao “fim do império americano” — expressão tão usada de forma exagerada —, mas a um realinhamento natural do poder econômico em direção a um mundo mais multipolar. O dólar segue sendo a principal moeda de reserva global, desde Bretton Woods, mas sua hegemonia vem sendo questionada por fatores que vão muito além da economia: eles envolvem política, geopolítica e até a confiança institucional nos Estados Unidos.

O discurso protecionista e o nacionalismo econômico que voltaram com força nos últimos anos, especialmente sob a política de Donald Trump, corroem parte dessa confiança. Tarifas, subsídios e interferência política no Federal Reserve são sintomas de um sistema que se move em direção à autossuficiência, o que, paradoxalmente, mina as bases de credibilidade que sempre sustentaram o dólar. Como investidor e estrategista, observo com atenção esse movimento porque ele redefine o mapa do capital global — e abre espaço para ativos alternativos, especialmente os ETFs temáticos e setoriais, que permitem capturar tendências regionais e estruturais de forma eficiente.

Cito frequentemente John Bogle, o pai da indexação e uma das minhas maiores influências. Ele dizia que o investidor deveria aceitar o mercado como ele é, e não como gostaria que fosse. Essa frase resume bem o que estamos vivendo agora. Não adianta lamentar a perda da “segurança americana” como pilar único do sistema financeiro; o investidor inteligente precisa entender que a diversificação é a nova forma de segurança.

Nesse sentido, o investidor global deve pensar em portfólios que contemplem exposição via ETFs a ativos fora dos Estados Unidos — Ásia, Europa, commodities e até mesmo ouro. O metal, aliás, tem se consolidado como um “porto seguro” alternativo ao dólar. Desde o congelamento das reservas russas em 2022, bancos centrais vêm aumentando suas posições em ouro, buscando reduzir dependência do sistema financeiro americano. Isso reforça algo que John Hull, referência incontornável quando falamos de derivativos e finanças quantitativas, ensinou em suas obras: o valor de um ativo depende não apenas de fluxo de caixa, mas de percepção de risco e confiança. O ouro é hoje, talvez, o ativo que mais sintetiza essa confiança deslocada.

Do ponto de vista estratégico, um dólar estruturalmente mais fraco tende a beneficiar mercados emergentes, especialmente o Brasil. Historicamente, ciclos de dólar fraco coincidem com maior fluxo de capitais para países exportadores e de alto potencial de crescimento. É por isso que defendo a tese de uma “renda global” com base em ETFs — uma carteira que combina diversificação internacional, proteção cambial natural e acesso a setores estratégicos, como energia limpa, tecnologia, defesa e saúde.

Essa é uma das ideias centrais do método Super ETF: usar a estrutura de fundos de índice para capturar as grandes transições econômicas sem depender da adivinhação de curto prazo. O investidor que se expõe a uma cesta global de ETFs consegue participar da redistribuição do capital mundial de forma automática, transparente e com custos muito menores do que qualquer gestão ativa tradicional.

O movimento de desdolarização também traz lições comportamentais. Ele nos lembra que o poder de um ativo — seja uma moeda, uma ação ou um ETF — não é eterno. O mundo financeiro é, acima de tudo, dinâmico. A hegemonia de ontem pode ser o equilíbrio multipolar de amanhã. O investidor que entende isso e atua com disciplina, visão de longo prazo e respeito à diversificação está mais preparado para prosperar.

Não acredito que o dólar vá colapsar, mas acredito firmemente que ele já deixou de ser o centro incontestável do universo financeiro. Isso, para mim, é uma excelente notícia. Significa que o capital global está se espalhando de forma mais equilibrada, abrindo oportunidades em múltiplas geografias e setores. É nesse cenário que o investidor disciplinado — aquele que segue os princípios de Bogle e aplica a racionalidade de Hull — pode construir riqueza sustentável.

Como costumo dizer, não se trata de prever o futuro, mas de se posicionar para ele. O novo ciclo geopolítico que enfraquece o dólar também fortalece o investidor global que sabe onde procurar valor. E hoje, esse valor está muito além das fronteiras americanas — acessível, democrático e eficiente, na forma de um simples ticker de ETF.