Filtro de planta do sertão que leva a ciência do laboratório ao bebedouro de escolas públicas

Tecnologia sustentável melhora a qualidade da água em escolas municipais de Vila Velha; projeto foi reconhecido pelo governo estadual após doação integral dos equipamentos e instalação gratuita.

Em uma região onde a falta de água potável faz parte da rotina, escolas municipais de Vila Velha (ES) passaram a ter acesso a uma água mais limpa e segura graças à iniciativa voluntária de uma engenheira química.

A área, marcada por comunidades carentes e favelas, depende em grande parte de poços subterrâneos — fonte que, embora pareça natural, traz um risco invisível: a água dura, com excesso de minerais como cálcio e magnésio.

Esses minerais têm o histórico de deixar as crianças doentes, causando prejuízos à saúde. Sem recursos para investir em tratamento, o governo municipal não tinha verba para resolver o problema, e as escolas continuavam utilizando a mesma água sem qualquer tipo de purificação.

Foi então que a engenheira Mayane Rawell decidiu agir por conta própria. Ela desenvolveu um filtro orgânico à base de moringa, planta conhecida por suas propriedades purificadoras, e doou integralmente os equipamentos e a mão de obra para as escolas. O objetivo era garantir que crianças em situação de vulnerabilidade tivessem acesso a água potável.

“Quando vi que as crianças bebiam diariamente aquela água sem tratamento, entendi que não dava pra esperar uma verba que talvez nunca viesse. A ciência precisava sair do papel”, contou Mayane.

Filtro simples, resultado real

O filtro de moringa reduz a dureza da água e melhora seu sabor e qualidade, sem depender de energia elétrica ou manutenção complexa. Desenvolvido com materiais acessíveis, o dispositivo é ideal para locais com pouca infraestrutura e fácil de instalar.

Após a implementação em duas escolas municipais, a melhora foi imediata: a água ficou mais leve, o gosto desagradável desapareceu e os bebedouros passaram a durar mais tempo. Professores e funcionários relataram maior bem-estar das crianças e satisfação com o resultado.

O impacto do projeto chamou a atenção do governo estadual, que reconheceu oficialmente a iniciativa e elogiou o caráter voluntário da ação, destacando seu alcance social e ambiental.

Ciência que transforma

Sem patrocínio, sem apoio institucional e sem retorno financeiro, a engenheira transformou um problema crônico em exemplo de como a ciência pode mudar vidas.

“Foi um reconhecimento especial, porque mostrou que a ciência, quando feita com propósito, pode oferecer dignidade nas coisas mais simples — como um copo d’água limpa”, disse Mayane.

O próximo passo agora é expandir o uso do filtro para outras escolas e comunidades do Espírito Santo. A ideia é que o projeto se torne um modelo de tecnologia acessível e replicável, capaz de levar água potável a milhares de brasileiros que ainda vivem sem ela.

Em um país onde milhões ainda não têm acesso à água tratada, o gesto de Mayane Rawell mostra que solidariedade e conhecimento podem caminhar juntos — e mudar realidades inteiras.