Capitólio dos EUA em Washington durante o shutdown do governo americano
O Capitólio, em Washington, durante o impasse orçamentário que paralisa o governo dos Estados Unidos. (Fonte: ChatGPT)

A paralisação parcial do governo dos Estados Unidos — que já dura quatro semanas — transformou-se em uma das mais longas da história americana. O impasse político em Washington ameaça não apenas o crescimento doméstico, mas também o ritmo da economia global, em um momento de incertezas e desaceleração nos principais mercados.

Impacto direto sobre o PIB americano

Historicamente, as paralisações do governo têm efeito limitado: a economia perde parte da atividade por algumas semanas, mas costuma recuperar o ritmo após a reabertura. Desta vez, porém, o cenário é mais grave.

Economistas estimam que cada semana de shutdown reduz entre 0,1 e 0,2 ponto percentual do PIB anual dos EUA — o que representa de US$ 7,6 bilhões a US$ 15,2 bilhões em perdas semanais, segundo a Oxford Economics.

Setores paralisados e efeito em cadeia

A ausência de um acordo no Congresso impediu a aprovação de qualquer orçamento emergencial, e a Casa Branca ameaça reter pagamentos retroativos a servidores públicos. Isso afeta diretamente o consumo interno, o turismo e até a revisão de novos medicamentos, com impactos na indústria farmacêutica e no comércio.

Empresas que dependem de contratos federais estão entre as mais atingidas. Em Maryland, companhias de tecnologia já demitiram e suspenderam funcionários por falta de repasses. Pequenos negócios, como produtores rurais e exportadores de alimentos, enfrentam atrasos na liberação de vistos e na concessão de licenças — travando cadeias produtivas inteiras.

“Mesmo uma paralisação curta emperra o funcionamento por meses”, relatou um advogado que assessora empresas de imigração nos EUA.

Crédito e habitação em risco

Agências federais como a Small Business Administration e o Departamento de Agricultura tiveram suas operações suspensas, interrompendo empréstimos subsidiados e programas de crédito rural. A pausa afeta diretamente mutuários de baixa renda, que dependem de garantias públicas para conseguir hipotecas ou expandir negócios.

Com o fechamento temporário dessas agências, milhares de americanos recorreram a crédito privado mais caro, aumentando o endividamento e pressionando a inflação. Economistas alertam que o momento é delicado: a política monetária dos EUA avança “às cegas”, sem dados oficiais de emprego e inflação, suspensos com o shutdown.

Falta de dados e risco de decisões erradas

A interrupção dos relatórios do Departamento do Trabalho e do Departamento de Comércio deixa o Federal Reserve sem referências concretas para calibrar a taxa de juros. A ausência dessas informações amplia o risco de decisões equivocadas — tanto para conter a inflação quanto para evitar uma recessão.

Agricultores também sofrem com a falta de relatórios semanais do Departamento de Agricultura, que orientam decisões sobre colheita e comercialização. “Não é um bom momento para a falta de informação”, disse um economista do Indiana Farm Bureau.

Efeitos colaterais globais

A paralisação nos EUA ocorre em meio à temporada de furacões, à tensão geopolítica na Europa e à desaceleração na China. A falta de capacidade operacional de agências como o Serviço Nacional de Meteorologia e a FEMA aumenta o risco de desastres naturais com maior custo humano e econômico.

Analistas alertam que os impactos do shutdown podem se espalhar por cadeias logísticas globais. Portos com menor fiscalização alfandegária enfrentam acúmulo de cargas e risco de perdas em produtos perecíveis. O resultado é um efeito dominó que encarece fretes, pressiona os preços e gera volatilidade nos mercados internacionais.

Um impasse político de alto custo

A falta de consenso entre republicanos e democratas mantém o país em um ciclo de desgaste que mina a confiança dos investidores. Sem perspectiva de acordo, a economia americana — que responde por cerca de 25% do PIB global — corre o risco de empurrar o mundo para uma nova fase de desaceleração sincronizada.

Para os mercados, o recado é claro: enquanto o Capitólio permanecer paralisado, a incerteza será o maior risco econômico de 2025.