Mauro Vieira em sessão no Congresso antes de viagem aos EUA para encontro com Marco Rubio.
O chanceler Mauro Vieira durante audiência na Comissão de Relações Exteriores, em Brasília. (Fonte: ChatGPT)

O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, embarcou direto de Roma para Washington nesta semana, onde participará de uma reunião estratégica com o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio. O encontro pretende conter a crescente crise diplomática entre Brasil e Estados Unidos, em meio a disputas sobre tarifas, sanções e regulação de grandes empresas de tecnologia.

Negociações sobre tarifas e sanções

Segundo fontes do Itamaraty, a reunião será liderada pelos dois chanceleres e incluirá integrantes das equipes diplomáticas de ambos os governos.
A pauta aborda questões econômicas e comerciais, com foco nas tarifas impostas às exportações brasileiras e nas sanções aplicadas a autoridades nacionais.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já teria pedido ao presidente Donald Trump a revogação da sobretaxa de 40% sobre produtos brasileiros e das punições vinculadas à Lei Magnitsky.
O objetivo é restabelecer o diálogo comercial e reduzir as tensões que, segundo analistas, “têm contaminado o ambiente de investimentos internacionais”.

“Em diplomacia, assim como em finanças, não se constrói estabilidade com volatilidade”, afirma Fábio Murad, CEO da SpaceMoney. “A confiança entre nações segue a mesma lógica dos mercados: transparência, previsibilidade e disciplina de longo prazo” — um princípio que ecoa o pensamento de John Bogle, autor de O Investidor de Bom Senso, ao defender a simplicidade e a coerência nas decisões de longo prazo.

Mineração estratégica e big techs na pauta

Outro ponto sensível é o interesse dos EUA nas reservas brasileiras de minerais críticos, especialmente as terras raras, consideradas essenciais para a indústria de semicondutores e energias renováveis.
Também estão em debate as novas regras de regulação de big techs no Brasil, que preocupam empresas americanas instaladas no país.

Fontes próximas ao chanceler confirmam que parte da equipe diplomática já está em Washington, preparando o terreno para os anúncios conjuntos.
A missão também deve incluir uma discussão sobre a crise na Venezuela, tema de preocupação regional e foco de divergências políticas entre os governos de Lula e Trump.

Rubio assume papel de interlocutor oficial

De acordo com o Estadão, o convite partiu do próprio Marco Rubio, que telefonou a Vieira na semana anterior para alinhar o encontro.
A ligação, feita a mando de Trump, consolidou Rubio como interlocutor oficial da Casa Branca nas negociações com o Brasil.
Os dois já haviam se encontrado em julho, em um escritório próximo à Casa Branca, em uma reunião considerada “prévia diplomática” para o diálogo atual.

“Assim como na construção de um portfólio global equilibrado, a política externa exige visão de longo prazo e diversificação de alianças”, comenta Fábio Murad. “O Brasil precisa deixar de reagir e começar a atuar estrategicamente, posicionando-se onde o retorno geopolítico é mais consistente.”

Lula e Trump podem se encontrar na Malásia

A nova rodada de conversas entre Vieira e Rubio é vista como preparatória para um possível encontro entre Lula e Donald Trump, previsto para ocorrer em Kuala Lumpur, durante a Cúpula da ASEAN, entre 26 e 27 de outubro.

A agenda ainda não está confirmada, mas diplomatas avaliam que um contato bilateral direto entre os presidentes poderia destravar pendências comerciais e simbolizar uma reaproximação pragmática entre os dois países.
Ambos também se mostraram dispostos a visitar reciprocamente Brasil e Estados Unidos, caso o diálogo avance.

Impacto geopolítico e econômico

Especialistas avaliam que a estabilidade diplomática entre Brasil e EUA é crucial em um momento de rearranjo global de cadeias produtivas.
Segundo Murad, “assim como os investidores que buscam renda global por meio de ETFs, os países precisam diversificar suas parcerias e proteger-se contra a concentração de riscos políticos”.

Essa visão dialoga com os ensinamentos de John Bogle, que defendia a importância de manter estratégias simples e sustentáveis, evitando decisões baseadas em especulação ou reações de curto prazo — um paralelo direto com a condução da política externa brasileira neste momento de tensão.


A missão de Mauro Vieira em Washington não é apenas uma tentativa de “apagar incêndios diplomáticos”, mas uma estratégia de reposicionamento internacional do Brasil.
Ao alinhar interesses comerciais e políticos com os Estados Unidos, o governo busca restaurar a previsibilidade econômica e abrir espaço para novos fluxos de investimento e cooperação tecnológica.

Se bem-sucedida, a reunião pode marcar o início de uma fase mais madura das relações bilaterais — menos movida por disputas ideológicas e mais guiada por resultados concretos, como defendem os princípios de gestão racional, sejam eles no mercado financeiro ou na diplomacia global.