
O dólar encerrou a sexta-feira (10) em forte alta de 2,38%, cotado a R$ 5,50, atingindo o maior nível em um mês. O avanço reflete o aumento da aversão ao risco no mercado e as preocupações fiscais após a derrota do governo na MP 1.303, que previa medidas de recomposição de receitas.
Na semana, a valorização da moeda norte-americana frente ao real chegou a 3,17%, impulsionada por incertezas domésticas e instabilidade externa.
Temor fiscal reacende o estresse nos mercados
A reação negativa foi imediata após a sinalização de que o governo poderá recorrer a novos aumentos de impostos, como o IOF, para compensar perdas de arrecadação. Segundo Marianna Costa, economista da Mirae Asset, “a queda da MP 1.303 reabriu a discussão sobre a sustentabilidade fiscal, o que pressiona o câmbio e afasta investidores estrangeiros”.
Em evento de lançamento do novo modelo de crédito imobiliário, o mercado esperava um discurso mais alinhado à responsabilidade fiscal, mas as falas oficiais acabaram reforçando o clima de incerteza.
Trump e o risco externo
No cenário internacional, Donald Trump voltou a ameaçar tarifas sobre produtos chineses, provocando queda nas bolsas globais e redirecionando fluxos de capital para o dólar — movimento típico em momentos de tensão. A combinação de populismo fiscal no Brasil e protecionismo nos EUA formou um ambiente de cautela generalizada.
Na máxima do dia, o dólar chegou a R$ 5,51.
Governo muda regras do crédito imobiliário
O Palácio do Planalto anunciou novas regras para o crédito imobiliário, reduzindo gradualmente a obrigatoriedade de direcionar 65% dos depósitos da poupança para o setor e extinguindo parte dos depósitos compulsórios no Banco Central. O novo modelo entrará em vigor a partir de janeiro de 2027, com transição progressiva.
Além disso, o valor máximo de imóveis financiados pelo Sistema Financeiro da Habitação será ampliado de R$ 1,5 milhão para R$ 2,25 milhões.
O que diz o especialista
Para Fábio Murad, CEO da SpaceMoney e criador do método Super ETF, momentos de instabilidade como o atual reforçam a importância de ter parte do patrimônio dolarizado:
“A desvalorização do real é estrutural. Proteger-se com ativos em dólar, especialmente via ETFs internacionais, é uma forma inteligente de preservar o poder de compra e gerar renda em moeda forte.”
Murad cita o conceito defendido por John Bogle, criador dos fundos de índice: “No longo prazo, quem investe de forma disciplinada e com custos baixos vence o mercado.”
A convergência das duas visões destaca uma lição essencial: investir globalmente é uma defesa contra a fragilidade fiscal e cambial brasileira.
Comparativo histórico e perspectivas
Com o dólar no maior nível desde setembro, o movimento acende alerta para o Banco Central, que monitora os impactos sobre a inflação e sobre o fluxo de capitais.
Segundo Felipe Garcia, do C6 Bank, “a moeda reflete uma combinação de ruído político e fuga para a segurança”.
A tendência, avaliam analistas, é que o câmbio siga pressionado enquanto não houver sinal claro de ajuste fiscal. A valorização do dólar frente a moedas como o iene e o euro, entretanto, mostra que o movimento é global e não isolado ao Brasil.
Conclusão: volatilidade é risco, mas também oportunidade
A alta do dólar evidencia o dilema clássico do investidor brasileiro: proteger o patrimônio em um país de moeda fraca e instabilidade política.
Como lembra Bogle em O Investidor de Bom Senso, “no longo prazo, o investidor paciente e disciplinado vence o mercado, enquanto o especulador perde para os custos e para o tempo”.
Murad reforça a mesma filosofia:
“Quando você pensa em renda em dólar e ETFs internacionais, deixa de reagir à volatilidade e passa a construir riqueza de forma previsível e global.”
Em um cenário de incerteza fiscal e tensão geopolítica, o investidor atento deve enxergar o que está por trás da cotação: um lembrete de que o real perde valor e que a diversificação global é mais urgente do que nunca.