
O movimento estratégico de Barsi
Luiz Barsi, conhecido como o “rei dos dividendos” e maior investidor pessoa física da B3, surpreendeu o mercado ao anunciar a venda de parte de sua posição histórica em Eletrobras (ELET3 e ELET6). Em contrapartida, o bilionário decidiu reforçar sua carteira com ações da Auren Energia (AURE3). O movimento não é comum para ele, que costuma segurar ativos por décadas, mas faz parte de uma lógica de realocação em busca de rentabilidade crescente.
Segundo o próprio investidor, a venda foi motivada pela forte valorização dos papéis da Eletrobras, que acumulam alta expressiva em 2025. Após mais de dez anos na companhia, o ganho de capital obtido chegou a níveis que justificam a troca por um ativo com preço mais acessível. Essa escolha não é fruto de especulação, mas de disciplina em manter o portfólio voltado para geração de renda previsível.
Na prática, Barsi deixou claro que o valor aplicado é menos importante do que a quantidade de ações acumuladas. A lógica é simples: dividendos são pagos por ação e não pelo volume financeiro investido. Assim, ao trocar uma ação de R$ 50 por cinco de R$ 10, o investidor amplia a base que gera fluxo de caixa para sua carteira. Esse raciocínio, que pode parecer contraintuitivo, reforça a visão de longo prazo e a busca por maximização da renda.
Esse tipo de reposicionamento é um lembrete para todos os investidores: ganhos de capital são importantes, mas a verdadeira sustentabilidade de um portfólio está em como ele gera renda ao longo dos anos. O preço importa, mas o dividendo recorrente é o que garante tranquilidade em qualquer cenário econômico.
A lógica dos dividendos
A decisão de trocar Eletrobras por Auren segue uma lógica que vai além do curto prazo. Auren é a terceira maior geradora de energia do Brasil e, apesar de recente no mercado — criada em 2021 a partir da fusão entre Votorantim Energia e CPP Investments — já se consolidou como uma empresa de peso no setor.
Nos últimos anos, a companhia distribuiu dividendos relevantes, especialmente antes da aquisição da AES Brasil em 2024. Esse movimento, que envolveu cerca de R$ 7 bilhões, pode reduzir temporariamente a capacidade de pagamento, mas reforça a tese de crescimento no longo prazo. A integração dos ativos fortalece a presença da empresa no setor e amplia sua diversificação de geração.
Barsi destacou que, mesmo que os dividendos por papel da Auren sejam menores que os da Eletrobras, o número de ações adquiridas compensa essa diferença. O cálculo é direto: ao multiplicar a base de papéis, aumenta-se o fluxo total de dividendos, construindo uma fonte de renda mais robusta. Essa abordagem segue uma filosofia de consistência, onde o foco está na renda recorrente e não apenas no preço de tela.
Esse raciocínio também se conecta a princípios fundamentais de investimentos: acumular ativos sólidos, com governança estável e capacidade de remunerar seus acionistas, é mais valioso do que buscar ganhos momentâneos. O dividendo é a materialização do lucro das empresas e, ao reinvesti-lo, o investidor potencializa o efeito dos juros compostos.
O histórico com Eletrobras
A relação de Barsi com a Eletrobras é longa e carrega um simbolismo importante. Ele entrou no ativo ainda durante o governo Dilma Rousseff, quando a Medida Provisória 579 abalou o setor elétrico ao tentar reduzir tarifas de energia. Na época, as ações despencaram de R$ 30 para menos de R$ 4, mas o investidor aproveitou a queda e comprou pesadamente.
O motivo era simples: o valor patrimonial da companhia era muito superior ao preço de mercado. Essa disparidade entre preço e valor sempre norteou sua estratégia. Com o tempo, os papéis voltaram a se recuperar e hoje orbitam justamente na faixa patrimonial que o investidor enxergava lá atrás. A valorização acumulada permitiu a realização de ganhos substanciais, o que abriu espaço para novas apostas.
Essa postura mostra uma lição crucial: momentos de pânico e distorções de preço podem criar oportunidades únicas. O investidor paciente, que mantém o foco em fundamentos, consegue capturar retornos extraordinários. Essa é a essência do investimento disciplinado: resistir ao ruído de curto prazo e agir quando a relação risco-retorno se torna assimétrica.
Agora, ao reduzir posição em Eletrobras, Barsi não renega o passado, mas sinaliza que o ciclo de valorização atual já entregou o esperado. Com isso, desloca recursos para onde enxerga maior potencial de multiplicação de dividendos no futuro.
Auren após a aquisição da AES Brasil
A compra da AES Brasil por R$ 7 bilhões marcou um ponto de virada na trajetória da Auren. O processo de integração, que durou cerca de um ano, consolidou a companhia como uma das maiores do setor. Entre as sinergias capturadas, destacam-se ganhos de eficiência, unificação de operações e melhoria da disponibilidade dos ativos eólicos.
De acordo com a própria gestão da Auren, a integração já trouxe benefícios financeiros. O aumento da eficiência operacional resultou em maior disponibilidade de geração, enquanto as sinergias somaram economias relevantes. Esses fatores ampliam a capacidade de remuneração futura e reforçam a tese de longo prazo defendida por investidores como Barsi.
Entretanto, é importante ressaltar que o curto prazo pode trazer volatilidade. A dívida contraída para financiar a aquisição pressiona resultados e pode limitar a distribuição de dividendos por alguns trimestres. Ainda assim, o racional do investimento não se perde: ao consolidar ativos e diversificar a matriz energética, a empresa cria condições para crescimento sustentável.
Esse tipo de movimento mostra como empresas bem posicionadas conseguem transformar desafios em oportunidades. Para o investidor paciente, quedas temporárias nos dividendos podem ser vistas como oportunidades de acumulação, desde que os fundamentos permaneçam sólidos.
O aprendizado para investidores individuais
O caso Barsi oferece lições valiosas para qualquer investidor. A primeira delas é a importância de pensar em termos de décadas, e não de meses. Quem busca riqueza consistente precisa estar preparado para resistir a oscilações e aproveitar momentos de distorção.
Outro aprendizado é a disciplina em priorizar dividendos. Não se trata apenas de fluxo imediato, mas da capacidade de reinvestir esse capital e potencializar os retornos ao longo do tempo. A simplicidade da estratégia é justamente o que a torna poderosa: comprar boas empresas, reinvestir dividendos e manter o foco em horizontes longos.
Além disso, fica evidente a relevância da diversificação. Ao trocar parte da Eletrobras por Auren, Barsi não abandona o setor elétrico, mas dilui riscos e amplia sua base de geração de renda. Essa postura evita concentração excessiva e fortalece a resiliência do portfólio.
Por fim, o investidor comum deve entender que ganhos extraordinários não vêm de movimentos mirabolantes, mas de consistência. Custos baixos, paciência e foco em fundamentos são os ingredientes que transformam aportes regulares em grandes patrimônios no futuro.