Nesta sexta-feira (19), por volta do meio-dia, o Ibovespa opera estável em 145.600 pontos, após uma semana marcada por fortes altas e renovação de recordes. O movimento desperta dúvida entre os investidores: é hora de aproveitar o rali da Bolsa brasileira ou esperar uma eventual correção para entrar em melhores preços?
Fernando Ferreira, estrategista-chefe da XP, avalia que ainda há espaço para valorização, mesmo com o índice em patamar histórico. Ele destaca que, ajustado por inflação e câmbio, o mercado brasileiro continua barato em comparação com a média histórica. Isso reforça a visão de que, em vez de esperar uma queda, o investidor disciplinado deve considerar a diversificação imediata da carteira.
Por que o índice segue atrativo
O desempenho recente do Ibovespa, mesmo após recordes, não significa que o mercado esteja caro demais. O múltiplo preço/lucro atual, em torno de 9,4 vezes, segue abaixo da média de 11 a 12 vezes. Essa métrica sugere que as ações ainda estão descontadas, em especial diante da expectativa de cortes na taxa Selic.
John Bogle, em O Investidor de Bom Senso, alerta que tentar adivinhar o momento certo para entrar é uma estratégia fadada ao erro. Para ele, o segredo não está em prever correções, mas em manter consistência nos aportes e paciência para colher os frutos do crescimento das empresas no longo prazo.
Migração da renda fixa é inevitável
Posição do investidor brasileiro
Segundo a Anbima, apenas 13,1% da carteira das pessoas físicas está em ativos de renda variável. Essa participação deve crescer conforme o Banco Central reduza os juros, diminuindo a atratividade da renda fixa.
O alerta de Ferreira
Ferreira lembra que o mercado antecipa os cortes da Selic. Por isso, esperar o CDI cair pode ser um erro estratégico: quando os juros forem de fato reduzidos, a Bolsa já terá incorporado essa expectativa.
O reforço de Bogle
Esse ponto vai ao encontro da filosofia de Bogle: “não faça algo, fique parado” — ou seja, em vez de tentar prever o futuro, o investidor deve construir sua carteira com regularidade e disciplina, ignorando o “barulho” do mercado.
Comparativo internacional: aprendendo com o S&P 500
No mesmo período em que o CDI brasileiro rendeu apenas 4% em dólar, o S&P 500 avançou 190%. Para Fábio Murad, CEO da SpaceMoney e criador do método Super ETF, esse contraste mostra por que o investidor não pode se limitar ao Brasil: “Diversificar internacionalmente não é luxo, é uma decisão estratégica para proteger o patrimônio em moeda forte e ampliar horizontes de crescimento”.
Essa perspectiva reforça que não se trata apenas de decidir se deve comprar ações no topo do Ibovespa. O caminho mais prudente é estruturar uma carteira que combine renda variável local, renda fixa e ETFs internacionais, garantindo equilíbrio diante de diferentes cenários.
Riscos e ajustes de mercado
A estabilidade desta sexta não elimina os riscos. A Bolsa brasileira mantém correlação com os índices americanos e pode cair caso Wall Street enfrente correções mais fortes. Por outro lado, o Ibovespa tem mostrado resiliência, caindo menos que os EUA em movimentos recentes.
Esse comportamento reforça o conceito de regressão à média descrito por Bogle: fases de otimismo exagerado ou de pessimismo profundo tendem a ser corrigidas. Assim, quedas podem se transformar em oportunidades para investidores pacientes, que seguem comprando ativos de qualidade com disciplina.
Estratégias práticas para o investidor
1. Rebalanceamento
Aproveite a estabilidade em 145.600 pontos para revisar sua carteira, reduzindo exposição em ativos que subiram demais e fortalecendo posições estratégicas ainda descontadas.
2. Aportes periódicos
A técnica de aportes regulares reduz o impacto da volatilidade e impede decisões emocionais baseadas em altas ou quedas momentâneas.
3. Diversificação internacional
Murad lembra que manter parte da carteira em dólar é crucial para se proteger da desvalorização estrutural do real. ETFs globais são o caminho mais eficiente e acessível para essa estratégia.
Foco na disciplina, não no placar do dia
Com o Ibovespa em 145.600 pontos ao meio-dia desta sexta-feira, a Bolsa mostra estabilidade após uma semana de recordes. Para Ferreira, Murad e Bogle, a lição é clara: o importante não é tentar adivinhar o fechamento do pregão, mas sim construir patrimônio com consistência, disciplina e diversificação.
Bogle resume: “No curto prazo, o mercado é uma máquina de votar. No longo prazo, é uma máquina de pesar”. Para o investidor de longo prazo, o melhor momento para começar é sempre agora — desde que com método e estratégia bem definidos.