
Os pedidos semanais de auxílio-desemprego nos EUA saltaram para 263 mil e reforçaram a aposta de corte de juros pelo Fed, apesar de um CPI ainda um pouco pior por dentro. O rali ganhou tração com rotação para economia real (Dow e Russell 2000) e dólar global em queda (DXY 96,51), enquanto commodities como minério de ferro (US$ 105,65) ajudaram os emergentes. No Brasil, o Ibovespa bateu 144 mil, mas cedeu no fim; o real firmou em R$ 5,39. Varejo ampliado decepcionou (-2,5% vs +1,6% esperado) e a inflação de serviços seguiu pressionada (6,31% a.a.).
Panorama global: emprego fraco, Fed mais perto
- EUA: o CPI de hoje veio “dentro do esperado/um pouco pior” no núcleo, mas o que mexeu com preço foi o auxílio-desemprego em 263 mil, máxima em 4 anos. A leitura de mercado: o Fed não só corta como pode ter de levar os juros abaixo do neutro (~3%) para apoiar a atividade. O Treasury 10Y marcou 4,02% intraday e fechou perto de 3,99%; o VIX seguiu em torno de 14.
- Rotação: Dow Jones +1,36% e Russell 2000 +1,83% superaram o S&P, num giro para empresas mais alavancadas/ligadas à economia real.
- Dólar global: o DXY caiu 0,27% a 96,51, favorecendo emergentes e moedas de commodities; real fechou R$ 5,39.
- Europa: BCE manteve a taxa em 2% e Christine Lagarde sinalizou que a régua para novos cortes “diminuiu”, sugerindo piso próximo.
- Commodities e Ásia: minério em US$ 105,65 com “China de volta à moda”, vento a favor para BR.
Desempenho regional em dólar
A narrativa é global: emergentes e Europa sobem com dólar fraco e juros menores. No ano em dólar: México ~40%, Brasil ~36–37%, Chile ~42%, Colômbia ~52%, Europa ~24–25% (Alemanha ~34%). Não é “mérito local” isolado — é tese macro.
Brasil: dados, preços e leitura do BC
Atividade e inflação
- Varejo ampliado (jul): -2,5% contra +1,6% esperado; quarta queda seguida do varejo total, refletindo aperto de crédito e juros reais altos.
- IPCA – serviços: núcleo de serviços a 0,39% m/m, 6,16% a.a.; itens intensivos em mão de obra a 0,65% m/m, 6,31% a.a. — não é inflação “benigna”.
Leitura: sem surpresa muito positiva externa, o BC tende a adiar início do ciclo aqui para jan/mar, com forte dependência da trilha do Fed.
Câmbio e juros
- USD/BRL: mín 5,37 e fechamento 5,39 (-0,36%).
- Curva DI: ponta curta levemente abriu; longa fechou (otimismo externo).
- NTN-B longa: movimento recente de 7,35% → 7,24%, refletindo alívio global no juro longo.
Bolsa brasileira: máximo intraday, realização final
- Ibovespa rompeu 144 mil na máxima, mas fechou com ganho moderado (~+0,56%), acompanhando o risk-on global.
- Amplitude do dia: 59 altas vs 21 quedas; volume R$ 19,1 bi.
- Setores: melhor desempenho em real estate e consumo discricionário; petróleo pesou entre as quedas.
- Blue chips: Vale +0,78%; Petro3/4 -0,38%/-1,05%; Itaú estável.
Fluxo e corretores
Estrangeiro segue tímido; entre as casas, Morgan Stanley liderou o net buy (R$ 167 mi), com Goldman e JPM também comprados; locais venderam.
Destaques corporativos
- Neoenergia (NEOE3): Iberdrola compra a fatia da Previ; controladora passa a deter ~80–84%; transação com prêmio de 15% sobre o mercado. Potencial entrada de US$ 1–2 bi de fluxo externo.
- Suzano (SUZB3): alívio após notícia de remoção de tarifa de 10% à celulose brasileira por ordem executiva nos EUA; melhora o quadro de preço em um setor em ajuste.
- Small caps: rotação ajuda nomes de consumo/serviços; exemplos de performances acumuladas no ano: Cogna +180%, Movida +135%, C&A +127% (amostra ilustrativa).
O que está precificado no Fed e por que importa
O mercado embute ~72 pontos-base de cortes, equivalentes a três movimentos de 25 bps ao longo do horizonte de 12 meses, com probabilidade próxima de zero de 50 bps já na próxima reunião. Dot plot e tom de comunicação serão centrais.
Implicações táticas:
- Renda variável global: beneficia-se de juro abaixo do neutro; foco em stock picking (não “qualquer coisa”).
- Brasil: cenário externo ajuda, mas serviços pressionados e varejo fraco pedem cautela na precificação de cortes locais.
Checklist do pregão
- EUA: CPI “um pouco pior por dentro”; auxílio-desemprego 263k (máx. 4 anos). UST10Y 4,02% → ~3,99%; VIX ~14.
- FX global: DXY 96,51 (-0,27%).
- Commodities: minério US$ 105,65; “China de volta à moda”.
- BCE: juros mantidos em 2%; sinalização de piso.
- Brasil: USD/BRL 5,39; Ibov testou 144 mil; varejo ampliado -2,5% (vs +1,6%); serviços 6,31% a.a..
Leitura estratégica (curto prazo)
Base case: pouso suave com Fed iniciando cortes e dólar em tendência de enfraquecimento. Riscos: deterioração mais rápida do emprego nos EUA; surpresa hawkish no dot plot; ruído político doméstico que afete fluxo estrangeiro. Bolsas: seguimos em rali de liquidez/rotação; tática favorece setores cíclicos domésticos e duration longa quando a curva fechar, mas evitando extrapolar múltiplos com serviços ainda duros no IPCA.