Tarifas

Governo anuncia pacote de contingência ao "tarifaço" dos EUA

Pacote de R$ 30 bilhões mira exportadores afetados por tarifas de até 50%. Medidas incluem crédito via BNDES, compras governamentais e ajustes no FGE

Lula e Alckmin discutem pacote do governo contra tarifas dos EUA
Agência Brasil

O governo federal anunciou um pacote de R$ 30 bilhões para mitigar os efeitos do tarifaço de até 50% aplicado pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros. A iniciativa será detalhada em Brasília. Ela combina linhas de crédito, reprogramação de recursos do BNDES e apoio por meio de compras públicas. Tudo isso a fim de dar fôlego às empresas expostas ao mercado americano. Parte dos itens exportados ficou isenta. No entanto, a tarifa adicional, que elevou a alíquota total para 50% desde 6 de agosto, segue pressionando margens e volumes. Isso afeta, sobretudo, bens industriais e do agronegócio.

Segundo integrantes da equipe econômica, o plano também contempla ajustes no Fundo de Garantia à Exportação (FGE) e outros instrumentos de seguro de crédito. Tais medidas visam reduzir risco financeiro e destravar capital de giro às companhias atingidas. Em síntese, o objetivo é amortecer perdas de curto prazo. Isso acontece enquanto o país tenta recompor canais de negociação com Washington.

Os efeitos são heterogêneos entre setores. Por um lado, houve exceções relevantes, como parte de sucos e aeronaves. Por outro lado, itens como café, carnes, pescados e frutas seguem sujeitos à nova taxação. Essa situação mobiliza pedidos de medidas emergenciais e logística alternativa para embarques.

O pano de fundo diplomático permanece tenso. Uma reunião virtual entre os ministros da Fazenda do Brasil e dos EUA foi cancelada em meio à disputa. Além disso, o Planalto avalia diversificar mercados (Sudeste Asiático) e acelerar frentes como Mercosul–UE. Ainda assim, o governo diz que não sairá da mesa e seguirá buscando exceções adicionais.

No cenário global, mais de 60 países correm para responder à rodada de tarifas americana. Em outras palavras, o risco de desorganização comercial e volatilidade nos preços internacionais segue elevado. Isso ocorre mesmo que alguns blocos tenham obtido acordos parciais de alívio.

Como esse pacote afeta seus investimentos?

Para quem investe em ações, o crédito e as garantias podem amortecer o choque em exportadoras com forte exposição aos EUA. Bem como, a margem ainda depende de câmbio, repasses e elasticidade da demanda. Em contrapartida, empresas menos expostas ao mercado americano ou com cadeias regionais tendem a sentir menos o impacto direto. Nesse sentido, estatais e companhias com programas de compras públicas podem capturar parte do estímulo.

Já para quem depende do câmbio e juros, o pacote reduz risco de curto prazo e ancora caixa para afetados. Como resultado, isso ajuda o real à margem. Ainda que o balanço de riscos siga externo. Estudos apontam que o tarifaço pode retirar 0,16 p.p. do PIB do Brasil (e até 0,41 p.p. em caso de retaliação). Isso sinaliza crescimento mais fraco e possível alívio na curva longa — desde que a incerteza não escale.

Por fim, no crédito privado, setores atingidos podem ver spreads oscilarem até que haja clareza sobre volumes e repactuação de contratos. Assim sendo, papéis de empresas com garantias públicas (FGE/BNDES) e colaterais robustos tendem a performar melhor no curto prazo. Isso acontece em contraste com emissores sem acesso às linhas do pacote.