O Departamento de Estatísticas dos EUA divulgou hoje (1) que o país adicionou apenas 73 mil vagas em julho. Este número ficou bem abaixo da estimativa de aproximadamente 105 mil a 110 mil. Além disso, ocorreram significativas revisões negativas para os meses de maio e junho, que juntos somaram queda de cerca de 258 mil vagas do que havia sido anteriormente relatado. A taxa de desemprego, por sua vez, subiu ligeiramente para 4,2%.
O Fed tem destacado que a taxa de desemprego é o principal indicador a ser observado. Sem dúvida, esse leve aumento sinaliza um mercado de trabalho mais equilibrado, com menor participação da população ativa. Como resultado, reforça-se o risco de arrefecimento econômico sem aceleração inflacionária.
Em mercados globais, a leitura fraca do relatório ampliou as apostas por cortes de juros pelo Fed já na reunião de setembro. Isso ocorre após recente queda das expectativas (de 64,5% para cerca de 43%). Nesse sentido, os futuros do S&P 500 operam com queda de cerca de 0,8%, diante de maior apreensão com dados americanos e tensões fiscais.
No mercado de títulos, os contratos de Treasuries sofreram leve queda. Esta queda acontece com a reprecificação das taxas de juros de longo prazo, reflexo das expectativas de afrouxamento monetário. Além disso, a volatilidade em câmbio e renda variável também tem aumentado, com impacto direto em fluxos para mercados emergentes.
Por outro lado, dados de retenções de impostos sobre folha de pagamento continuam robustos. Eles apresentam alta de 6,4% anual, sugerindo que, mesmo com fraca criação de vagas, a massa salarial e o consumo permanecem surpreendentemente resilientes.
Como os dados do Payroll afetam o Brasil?
A divulgação de um payroll fraco tende a enfraquecer o dólar e, acima de tudo, elevar o apelo por ativos de mercados emergentes como o Brasil. Em virtude disso, pode ocorrer a valorização do real, bem como redução das pressões importadas sobre a inflação. Assim sendo, amplia-se a dinâmica de fluxo de capital externo para ações e títulos locais.
Em contrapartida, se o relatório viesse com surpresas positivas — criação robusta de vagas e queda da taxa de desemprego — o cenário seria revertido. Isto é, haveria aumento do dólar, elevação dos juros de longo prazo nos EUA e redução do espaço para quedas na Selic. Atualmente, a Selic está em níveis próximos de 14,5%‑15%, pressionando crédito e atividade doméstica.
Finalmente, o payroll atua como gatilho para decisões de fluxo global. Um Fed mais dovish diante de fraqueza no emprego americano favorece não apenas ETFs de renda fixa, como também equities de emergentes com maior renda em reais. Por outro lado, um payroll forte sustenta ação de títulos e de ativos defensivos, reduzindo o risco país e limitando o apetite por risco no Brasil.