Nos últimos anos, investir em ativos internacionais se tornou muito mais acessível aos brasileiros. A instabilidade econômica, política, fiscal, juntamente com os juros altos e a inflação persistente fez com que cada vez mais brasileiros procurassem opções no exterior.
Além disso, em 2020, a CVM liberou a negociação de BDRs (recibos de ações estrangeiras) para todos os investidores, dando acesso inicial a mais de 550 empresas globais que antes eram restritas aos qualificados. Medida que impulsionou ainda mais esse movimento. Hoje já existem mais de 1.090 BDRs diferentes listados na B3 – cerca de 830 recibos de ações de empresas estrangeiras.
Em paralelo, o mercado de ETFs (fundos de índice) no Brasil também explodiu: de apenas 26 ETFs em 2020 saltou para mais de 100 ETFs em 2023, cobrindo desde índices locais até bolsas estrangeiras. Com isso, o volume diário negociado em ETFs ultrapassa R$ 1,4 bilhão em 2024, evidenciando sua popularidade crescente.
Pensando nisso, confira agora um guia e uma comparação completa sobre os dois ativos e entenda qual faz mais sentido para o seu perfil e objetivos de investimento.
ETFs (Exchange Traded Funds)
Em primeiro lugar, os ETFs (Exchange Traded Funds) são fundos de investimento cujas cotas são negociadas em bolsa de valores, de forma semelhante a uma ação. Em essência, um ETF procura replicar o desempenho de um índice de mercado específico.
Para isso, o gestor do ETF monta uma carteira de ativos na mesma proporção do índice de referência, refletindo fielmente sua performance. Por exemplo, um ETF pode acompanhar o índice Ibovespa comprando as ações nas mesmas porcentagens do índice, ou seguir o S&P 500 investindo nas 500 maiores empresas dos EUA.
Assim, ao adquirir uma cota de ETF, o investidor está indiretamente comprando uma cesta diversificada de ativos daquele índice. Essa estrutura permite acesso instantâneo a um conjunto amplo de ações em um só ativo, tornando os ETFs sinônimo de praticidade e diversificação. Diferentemente de fundos mútuos tradicionais, as cotas dos ETFs são compradas e vendidas livremente no pregão da B3, com preço oscilando em tempo real.
A liquidez tende a ser elevada – ETFs são negociados diariamente na bolsa, e seu mercado é consideravelmente líquido, possibilitando comprar e vender cotas com relativa facilidade. Essa liquidez é garantida pela presença de formadores de mercado e pelo mecanismo de criação e resgate de cotas (instituições autorizadas podem arbitrar diferenças entre o preço do ETF e o valor dos ativos da carteira, mantendo o preço justo).
Existem diversos tipos de ETFs disponíveis no mercado, cada um com características específicas. Quanto à gestão, encontramos ETFs passivos e ativos. Também há diferenças na política de distribuição.
Vantagens e desvantagens dos ETFs
A principal vantagem dos ETFs é a diversificação instantânea com apenas uma compra. Ao adquirir uma cota, o investidor passa a ter pequenas participações em dezenas ou centenas de empresas, reduzindo significativamente o risco específico. Esta diversificação é acessível mesmo para quem tem pouco capital. Além disso, a praticidade é outro diferencial importante – o ETF reúne vários ativos em um único produto, eliminando o trabalho de selecionar e rebalancear ações individualmente.
Os ETFs também oferecem custos competitivos, com taxas de administração geralmente baixas (muitas vezes inferiores a 0,5% ao ano) graças à gestão passiva. A liquidez é outro ponto forte, que garante spreads reduzidos e facilidade para entrar ou sair da posição. Por serem negociados na bolsa brasileira, permitem acesso a mercados globais sem necessidade de abrir conta no exterior ou converter moeda.
Entretanto, os ETFs apresentam algumas desvantagens. Uma delas é a falta de flexibilidade na escolha individual de ativos – ao investir em um ETF, você aceita todos os componentes daquele índice, incluindo empresas que talvez não desejaria ter. Além disso, por replicarem índices, nunca conseguirão superar o mercado. Outros pontos negativos incluem o custo da taxa de administração, a ausência de isenção de IR para vendas mensais até R$ 20 mil (diferente das ações nacionais), a não distribuição direta de dividendos, e o risco de mercado que, embora diluído, continua presente.
Exemplos de ETFs
ETF | Ticker | Tipo de gestão | Tipo de ETF | Índice replicado | Características |
---|---|---|---|---|---|
BOVA11 | BOVA11 | Passiva | Renda Variável | Ibovespa | Diversificação entre grandes empresas brasileiras, taxa reduzida e alta liquidez. |
Vanguard S&P 500 ETF | VOO | Passiva | Renda Variável | S&P 500 | Exposição às 500 maiores empresas dos EUA, taxa de apenas 0,03% ao ano. |
Vanguard FTSE Developed Markets ETF | VEA | Passiva | Renda Variável | FTSE Developed All Cap ex-US | Acesso a 3.500+ ações de 21 países desenvolvidos, taxa de 0,03%. |
Vanguard FTSE Emerging Markets ETF | VWO | Passiva | Renda Variável | FTSE Emerging Markets | Exposição a países emergentes como Índia, Brasil e Taiwan, taxa de 0,07%. |
ARK Innovation ETF | ARKK | Ativa | Renda Variável | N/A (gestão ativa) | Foco em tecnologias disruptivas, maior tolerância à volatilidade. |
ProShares Ether Strategy ETF | EETH | Passiva | Criptomoedas | Contratos futuros de Ethereum | Investe em contratos futuros de Ether negociados na CME. |
JPMorgan Equity Premium Income ETF | JEPI | Ativa | Renda Passiva | Enhanced indexing | Busca gerar renda mensal através de estratégias com opções. |
ETF de Moedas | DOLA11 | Passiva | Moedas | Índices cambiais | Replica o desempenho de moedas estrangeiras ou cestas de moedas. |
BDRs (Brazilian Depositary Receipts)
Em segundo lugar, os BDRs (Brazilian Depositary Receipts) são recibos de valores mobiliários emitidos no Brasil que representam ações de empresas estrangeiras. Em outras palavras, um BDR é um certificado negociado na B3 que lastreia uma ou mais ações de uma companhia listada no exterior. Ao comprar um BDR, o investidor brasileiro investe indiretamente em uma ação internacional, porém realizando a operação totalmente no mercado local, em reais.
Cada BDR equivale a uma fração ou a um número inteiro de ações da empresa estrangeira – essa proporção é definida no programa do BDR. Por exemplo, o BDR AAPL34 representa ações da Apple Inc., e o AMZO34 representa ações da Amazon. Ao adquiri-los, você passa a ter direito econômico sobre essas empresas como se fosse um acionista lá fora. Para viabilizar esse mecanismo, existe uma instituição depositária no Brasil que mantém em custódia as ações originais no exterior e emite os BDRs aqui.
Assim, o preço do BDR reflete o preço da ação lá fora, ajustado pela taxa de câmbio e por eventuais taxas do programa. Val elembrar que a cotação do BDR é em reais, mas acompanha as oscilações da ação estrangeira e do dólar. Isso significa que os ganhos podem vir tanto da valorização da ação subjacente quanto da alta do dólar frente ao real (no caso de empresas dos EUA, por exemplo). Na prática, porém, um BDR não replica 100% o desempenho do ativo original, pois seu valor depende da dinâmica de oferta e demanda local e da atuação dos formadores de mercado. Ainda assim, é uma forma eficaz de acessar empresas globais sem transacionar diretamente em bolsas estrangeiras.
Os BDRs são negociados na B3 como ações brasileiras, com tickers terminando em 32, 33, 34 ou 35 (ex: GOGL34, TSLA34). Para investir, basta usar sua corretora nacional sem necessidade de conta no exterior ou câmbio. A instituição depositária no Brasil vincula o recibo a uma ação mantida no exterior, com liquidez variando conforme a popularidade da empresa – as Big Techs americanas possuem volumes robustos, enquanto companhias menos conhecidas podem ter baixa liquidez, apesar da B3 exigir formadores de mercado.
Vantagens dos BDRs
Os BDRs oferecem acesso simplificado ao mercado global, permitindo investir em empresas internacionais diretamente na B3, em reais e sem burocracia. Isso possibilita diversificação com setores pouco representados no Brasil, como tecnologia e biotecnologia, além de trazer exposição cambial automática que pode proteger o poder de compra em cenários de real fraco.
Operacionalmente, os BDRs têm tributação semelhante à de ações e permitem estratégias conhecidas dentro da B3. Para quem gosta de dividendos, os BDRs convertem em reais os pagamentos de empresas estrangeiras. Há também o benefício educacional de aprofundar conhecimentos sobre o mercado internacional.
Entretanto, os BDRs apresentam risco de concentração, pois cada um representa apenas uma empresa. Para diversificar, é necessário adquirir vários BDRs, aumentando custos e trabalho de gestão. Muitos BDRs têm liquidez limitada, com spreads maiores e possíveis dificuldades para vender rapidamente ao preço desejado.
Questões tributárias também são desvantagens: BDRs não têm isenção de IR para vendas de até R$ 20 mil mensais, e seus dividendos são tributados conforme a tabela progressiva. Existe ainda o risco cambial negativo quando o real se valoriza. Em resumo, BDRs apresentam maior volatilidade específica, necessidade de diversificação manual, possível baixa liquidez e questões tributárias menos favoráveis.
Exemplos de BDRs
Empresa | Ticker | Setor | País de origem | Volume médio diário (R$ mil) | Retorno em 2024 (% até maio) |
---|---|---|---|---|---|
Nvidia Corp | NVDC34 | Tecnologia | EUA | 43.324 | 102,62% |
MicroStrategy Inc | M2ST34 | Tecnologia | EUA | 3.008 | 168,10% |
Coinbase Global, Inc | C2OI34 | Criptomoedas | EUA | 2.917 | 303,94% |
Sea Ltd | S2EA34 | Tecnologia | Singapura | 244 | 90,51% |
Spotify Technology S.A. | S1PO34 | Entretenimento | Luxemburgo | 361 | 70,75% |
Micron Technology, Inc | MUTC34 | Tecnologia | EUA | 369 | 60,46% |
General Electric Company | GEOO34 | Industrial | EUA | 527 | 58,42% |
Taiwan Semiconductor Mfg Co Ltd | TSMC34 | Tecnologia | Taiwan | 3.349 | 54,92% |
Moderna, Inc | M1RN34 | Biotecnologia | EUA | 1.178 | 52,34% |
Qualcomm Inc | QCOM34 | Tecnologia | EUA | 388 | 45,30% |
Mas afinal, vale mais a pena investir em ETFs ou BDRs?
Agora que entendemos as características de cada instrumento, vamos compará-los diretamente em alguns quesitos-chave, para auxiliar na avaliação de risco, custo, tributação, liquidez e praticidade operacional de ETFs versus BDRs.
Risco e volatilidade
ETFs e BDRs apresentam perfis de risco distintos: ETFs oferecem diversificação automática através de dezenas ou centenas de ativos, resultando em volatilidade mais baixa e previsível. Em contraste, BDRs expõem o investidor ao risco concentrado em empresas individuais, com oscilações potencialmente mais bruscas devido a eventos específicos.
Um ETF de mercado amplo absorve melhor o impacto de um balanço ruim de uma empresa, enquanto um BDR pode sofrer quedas significativas.
Em termos de risco/retorno, ETFs proporcionam proteção contra eventos negativos isolados, mas também limitam ganhos expressivos de ativos individuais. BDRs oferecem maior potencial tanto de ganho quanto de perda.
Ambos estão sujeitos ao risco de mercado global e cambial, mas diferem fundamentalmente na gestão do risco específico: ETFs espalham o risco automaticamente, enquanto BDRs exigem que o próprio investidor diversifique comprando múltiplos recibos – demandando mais esforço e recursos.
Custo total: corretagem, taxas e spreads
Em relação aos custos, ETFs cobram taxa de administração explícita enquanto BDRs não, porém os BDRs têm custos menos visíveis como taxas de custódia descontadas dos dividendos. Em termos de negociação, ETFs grandes oferecem maior liquidez e spreads menores (diferença entre preço de compra e venda), com volumes diários de centenas de milhões de reais, resultando em custos de transação reduzidos. BDRs apresentam liquidez inferior e spreads mais amplos, mesmo com a melhoria desde 2020.
Para diversificar com BDRs, são necessárias múltiplas operações, somando custos, enquanto ETFs permitem exposição diversificada em uma única transação. O horizonte de investimento influencia a escolha: a taxa de administração do ETF pode ser compensada pela maior eficiência nas negociações.
Tributação e declaração
A tributação de ETFs e BDRs segue regras similares para ganhos de capital: ambos pagam 15% sobre o lucro (20% para day trade), sem a isenção mensal de R$ 20 mil que existe para ações brasileiras. A principal diferença está nos dividendos: ETFs não distribuem dividendos, reinvestindo-os automaticamente, enquanto BDRs pagam dividendos que são tributados pela tabela progressiva do IR (até 27,5%), exigindo declaração como rendimentos tributáveis.
Do ponto de vista fiscal, ETFs tendem a ser mais eficientes por automatizarem o reinvestimento sem tributação direta de dividendos, simplificando a gestão tributária (menos DARFs). Ambos são isentos do mecanismo “come-cotas” e apresentam pequenas diferenças na declaração anual. BDRs, apesar da desvantagem tributária nos dividendos, permitem acesso imediato aos proventos em dinheiro, caso seja esse o objetivo do investidor.
Simplicidade operacional
Tanto ETFs quanto BDRs oferecem praticidade por serem negociados diretamente na B3, em reais, sem necessidade de contas internacionais. Os ETFs se destacam pela simplicidade operacional ao automatizar a gestão da carteira e o reinvestimento de dividendos, oferecendo uma solução “plug and play” que mantém seu dinheiro sempre investido, sem exigir acompanhamento detalhado de cada empresa.
Os BDRs, por outro lado, exigem maior envolvimento do investidor, pois a gestão da carteira fica sob sua responsabilidade – desde a diversificação e rebalanceamento até o reinvestimento de dividendos. Embora demandem mais tempo e conhecimento, oferecem maior liberdade de escolha.
Qual combina melhor com seu perfil e objetivos?
Depois de tudo isso, fica mais simples entender em quais perfis os ETFs e os BDRs se encaixam melhores. Para iniciantes ou conservadores, os ETFs internacionais representam a porta de entrada ideal no mercado global, oferecendo diversificação instantânea, menor volatilidade e simplicidade operacional.
Investidores mais experientes e dispostos a assumir riscos podem encontrar nos BDRs a ferramenta perfeita para construir uma carteira internacional personalizada. Eles permitem selecionar empresas específicas baseadas em análises próprias, apostando em setores ou teses de investimento nas quais você acredita. Esta abordagem oferece maior potencial de retorno, mas exige mais conhecimento, tempo de acompanhamento e tolerância à volatilidade.
A estratégia mais equilibrada, no entanto, pode ser combinar ambos os instrumentos. Muitos investidores bem-sucedidos adotam uma abordagem híbrida: alocam o núcleo do portfólio internacional em ETFs diversificados para estabilidade e, com uma parcela menor, selecionam BDRs de empresas com potencial diferenciado.
Outra estratégia que vem ganhando destaque nos últimos meses é o Super ETF. A metodologia, que funciona para iniciantes e experientes, te ensina a operar ETFs e opções por meio de Covered Calls. Tudo isso para gerar uma renda extra em dólar todos os meses! Ficou curioso? Clique aqui e veja a primeira aula grátis.