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IPOs em 2021: recorde está no horizonte, mas incertezas ameaçam empresas

Os riscos que a pandemia trouxe causam medo aos investidores, e isso pode diminuir o ritmo de novas empresas que irão abrir seu capital

19 ABR 2021 • POR Guilherme Roque • 16h49

Até o momento, 15 ofertas públicas iniciais de ações (IPO, na sigla em inglês) foram lançadas em 2021 na B3, a bolsa de valores brasileira. Somente em abril, essas ofertas poderão movimentar cerca de R$ 24,5 bilhões, valor maior do que o do primeiro trimestre como um todo, que registrou R$ 21,3 bilhões de capital movimentado. Outras 41 ofertas estão em análise pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários).

O montante de IPOs do começo do ano até o final deste mês pode superar, inclusive, o do ano de 2020: no ano passado, R$ 45,3 bilhões foram movimentados em 27 negócios, uma alta de 344,2% quando comparado com 2019, que registrou R$ 10,2 bilhões.

Apesar de um recorde à frente, Levindo Santos, sócio da G5 Partners e especialista em investimentos, afirma que a Bolsa e as empresas têm um futuro ameaçado por incertezas. Os riscos provenientes da pandemia, que trouxeram ao país uma recessão e dificuldade para a retomada da economia, causam medo aos investidores, e isso pode diminuir o ritmo de novas empresas que irão abrir seu capital.

“Estamos vendo no radar incômodos”, diz. “Algumas empresas preferem suspender a oferta até que esse risco adicional que a gente percebe hoje possa ser respondido por ações do governo e o mercado se torne mais tranquilo”. 

Os sinais disso já podem ser sentidos: cerca de 20 companhias já desistiram de realizar seus IPOs em 2021. Segundo o Money Times, a distribuidora de produtos médicos Viveo decidiu cancelar a precificação de sua oferta inicial de ações por “condições de mercado adversas”. De acordo com a fonte consultada pelo veículo, os investidores estrangeiros estão ausentes do mercado de IPOs no Brasil, enquanto os locais estão mais cautelosos, o que reduz o interesse pelas ações.

Outro indício é a redução na precificação das ações nos IPOs das empresas. Em abril, nenhuma empresa conseguiu precificar suas ações dentro da faixa de preço estabelecida inicialmente. As ações da Mater Dei (MATD3), por exemplo, foram precificadas a R$ 17,44,  um desconto de 20% em relação ao piso da faixa indicativa inicial para a operação.

“A maioria dos investidores está dizendo ‘eu tenho hoje uma percepção de risco maior do que eu tinha, por exemplo, em 2020, ou no comecinho de 2021, em função do comportamento da economia brasileira, e, com isso, para aceitar comprar sua ação no IPO, eu quero um preço menor, por causa do risco maior que eu vou ter’”, explica o especialista.

“Portanto, a gente deve ter uma revisão das expectativas para os próximos IPOs de 2021”, completa.

O que explica o movimento

Um dos fatores que podem explicar o ‘boom’ de IPOs tanto em 2020 quanto em 2021 é, de acordo com Levindo, uma realocação de recursos da renda fixa para a renda variável, muito por conta da baixa taxa Selic, que chegou a sua mínima histórica de 2% ao ano, em agosto de 2020, e permaneceu nesse patamar até março passado, quando o Banco Central (BC) decidiu elevá-la a 2,75% ao ano, sinalizando um ciclo de altas.

Outro ponto é a competitividade nos setores do mercado. Quando uma empresa abre seu capital e consegue mais recursos para expandir seus negócios, isso cria uma espécie de ‘efeito dominó’ em outras companhias do setor, que buscam não ficar para trás na concorrência e acabam sendo “incentivadas” a abrir seu capital. 

“O que os acionistas querem quando investem em uma empresa é uma estratégia que crie valor. De alguma maneira seus concorrentes têm que fazer algo parecido, ou a mesma coisa, senão, em alguma área geográfica, eles podem passar a ser ‘presas’, por exemplo. A maneira de se tornar um dos consolidadores é, muitas vezes, abrindo o capital”, explica.

“O setor de saúde, hoje, está muito melhor representado do que estava há dois, três anos atrás. Especificamente, o setor hospitalar chama muita atenção. Lá atrás teve Hapvida, Notre Dame Intermédica, e mais recentemente, a Rede D’Or e o hospital Mater Dei fazendo seus IPOs. Quando o primeiro deles faz o IPO, ele se fortalece com um dinheiro novo, e mais do que um dinheiro novo é uma proposta formal de crescimento”.

Devo investir?

Levindo ressalta que o investimento em ações requer um pouco mais de experiência, e recomenda, em um primeiro momento, que aqueles que estão interessados comecem por fundos de ações, com gestores especializados. Entretanto, ao adquirir certa maturidade no tema, o conselho é que o investidor busque informações para seguir com cautela no mercado.

“No momento em que a pessoa se interessa, se qualifica e tem tempo para se manter atualizada e informada, lendo as análises divulgadas pelos especialistas, ela pode, sim, passar a investir diretamente, sem passar por fundos”.

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