Infraestrutura cai em termos de valor na indústria da construção

27 MAI 2020 • POR Agência Brasil • 10h53Pesquisa Anual da Indústria da Construção referente a 2018 (Paic 2018), divulgada hoje (27) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Rio de Janeiro, revela modificação na estrutura do setor em comparação a 2009. Um dos destaques é a perda de espaço das obras de infraestrutura, que caíram de 46,5% para 31,3% em dez anos. No fim de 2018, o setor da construção englobava 124,5 mil empresas ativas e ocupava 1,9 milhão de pessoas. O gasto com salários, retiradas e outras remunerações somou R$ 53,3 bilhões naquele ano. Em termos de valor de incorporações, obras e/ou serviços da construção, a atividade da construção gerou R$ 278 bilhões em 2018. Ela é dividida em três segmentos: construção de edifícios, que engloba incorporações, empreendimentos imobiliários, edificações e a própria construção de prédios; obras de infraestrutura, como rodovias, ferrovias, construção pesada, telecomunicações; e serviços especializados para construção, o que envolve atividades de apoio, entre as quais acabamento, demolições, por exemplo. Os três setores têm dinâmicas específicas, inerentes a cada um deles, disse à Agência Brasil a gerente de Análise e Disseminação das Pesquisas Estruturais do IBGE, Synthia Santana. [better-ads type="banner" banner="47405" campaign="none" count="2" columns="1" orderby="rand" order="ASC" align="center" show-caption="1"][/better-ads] Queda A economista afirmou que o grande destaque da PAIC 2018 é a queda das obras de infraestrutura porque essas estão relacionadas a grandes investimentos. “É um segmento que tem um porte muito maior de empresas, ou seja, emprega muita gente por empresa, com maior remuneração. Então, quando esse setor cai, a queda observada nessa atividade tem implicações muito importantes na indústria da construção, justamente pelo tamanho desse setor”, analisou Synthia. O item obras de infraestrutura, que liderava historicamente o ranking em termos de valor de incorporações, obras e/ou serviços da construção, caiu para a segunda posição em 2018, com R$ 87 bilhões, ultrapassado por construção de edifícios, com R$ 126,6 bilhões. Serviços especializados para construção apresentaram R$ 64,4 bilhões. Do total de R$ 278 bilhões em valor de incorporações, obras e/ou serviços da construção gerados pela atividade da construção em 2018, 95,1% foram provenientes de obras e/ou serviços da construção e, o restante, de incorporações de imóveis construídos por outras empresas. Setor público Synthia Santana destacou também a importância das obras de infraestrutura quando se analisa os clientes da indústria da construção. “Historicamente, as obras de infraestrutura são demandadas pelo setor público, cuja participação caiu bastante nesses últimos dez anos, tanto no total, quanto especificamente nas obras de infraestrutura, onde houve maior variação”, disse. Quando se compara com o histórico de construções do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), verifica-se que muitas delas estão paradas, observou. De acordo com a pesquisa, a participação do setor público na indústria da construção caiu 12,5 pontos percentuais nos últimos 10 anos (de 43,2%, em 2009, para 30,7%, em 2018) , fato que ocorreu simultaneamente nas três atividades que compõem o setor. O item obras de infraestrutura passou de 61,5% para 50,4% na década. Já no segmento de construção de edifícios, o recuo foi de 6,7 pp, caindo de 28,6% para 21,9%. Estabilidade As contratações de serviços especializados para construção (19,3% contra 20,4% em 2009) se mantiveram praticamente estáveis na comparação dos últimos dez anos, com perda de 1,1 pp no período. Essa retração das obras de infraestrutura foi influenciada pelas dificuldades enfrentadas pela economia em 2015 e 2016. “A gente vem de uma desaceleração recente muito forte. Em 2017, a gente começa a ensaiar os primeiros sinais de recuperação; 2018 mostra isso em evolução, mas a construção não foi capaz de se recuperar”, acentuou. Vendo os dados das Contas Nacionais, nota-se que a construção, entre os componentes do Produto Interno Bruto (PIB), teve queda de 3,8%. “Notamos que obras de infraestrutura têm um papel fundamental nesse sentido porque são relacionadas a grandes investimentos, de longa maturação, que precisam ter um cenário econômico, político e institucional mais estável”, frisou a gerente da pesquisa. Enquanto as obras de infraestrutura tiveram sua participação reduzida de 46,5%, em 2009, para 31,3%, em 2018, a construção de edifícios passou a compor 45,5% do valor de incorporações, obras e/ou serviços da construção em 2018, contra 39,5% em 2009, ocupando a liderança desse ranking. Já os serviços especializados para construção, embora apareçam em terceiro lugar, foram os que mais ganharam participação ao longo da década, com expansão de 9,2 pontos percentuais, passando de 14% para 23,2%. Poder de mercado O indicativo de poder de mercado abordado pela pesquisa do IBGE para analisar a concentração existente na indústria da construção revela que houve, no período, uma desconcentração dessa atividade. Em 2009, as oito maiores empresas do setor eram responsáveis por 12,4% do valor das obras. Esse número caiu em 2018 para 4,4%. “Ou seja, a concentração caiu cerca de um terço e a maior queda (15,7 pp) foi observada exatamente nas obras de infraestrutura. Esse poder de mercado vai se distribuindo em mais empresas. É por isso que essa desconcentração acontece”, disse Synthia. Nas obras de infraestrutura, as oito maiores empresas passaram a representar 10,8% do mercado em 2018, contra 26,5% de 2009. Segundo o estudo, a construção de edifícios, por sua vez, reduziu a concentração em 3,6 pp, registrando 6,8%, enquanto o setor que compreende os serviços especializados para construção (6,4%) se manteve relativamente estável, com queda de 1,6 pp no período analisado pelos pesquisadores. Pessoal ocupado A análise da distribuição do pessoal ocupado entre as atividades que compõem a indústria da construção mostra que as empresas da construção empregavam 1.869.592 pessoas no fim de 2018, redução em torno de 9,7% em comparação a 2009. Esse volume de trabalhadores recebeu, em 2018, R$ 53,3 bilhões em salários, retiradas e outras remunerações.
Empresas da construção empregavam 1.869.592 pessoas no fim de 2018, redução de 9,7% em comparação a 2009                         Arquivo/Tânia Rêgo/Agência Brasil