Amigos dão adeus ao "fotógrafo dos presidentes"

9 ABR 2019 • POR Agência Brasil • 18h06

Alegre. Gentil. Galanteador. Humilde. Foram esses alguns dos adjetivos usados para qualificar o fotojornalista Gervásio Baptista durante o velório realizado na manhã de hoje (9), no Campo da Esperança, em Brasília.

Conhecido como o “fotógrafo dos presidentes”, o baiano que trabalhou nas revistas O Cruzeiro e Manchete e registrou Juscelino Kubitschek, Tancredo Neves, José Sarney, Che Guevara, as revoluções Cubana e dos Cravos (Portugal), a Guerra do Vietnã e vários concursos de misses morreu na última sexta-feira (6), aos 95 anos.

Ótimo contador de “causos” e dos vários fatos históricos que testemunhou, Baptista dedicou sua vida a eternizar momentos fugidios.

“O Gervásio foi um ícone da fotografia política do Brasil, tendo documentado alguns dos momentos decisivos da história contemporânea”, afirmou o ex-presidente da República e ex-senador, José Sarney, que conheceu o fotógrafo ainda durante os anos 1950. “Aqui, sou só mais um amigo do Gervásio, mas acho que todos os presidentes que o conheceram têm uma grande admiração por ele e pelo seu trabalho”, acrescentou o político maranhense que manteve contato sistemático com Gervásio ao longo das últimas décadas.

O ministro e presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, também compareceu ao velório de Gervásio, que fotografou o dia a dia da Corte entre os anos de 2001 e 2015. Ele se emocionou ao lembrar que, ao ser empossado ministro, em 2009, pediu a benção do veterano. “Geralmente, uma pessoa que vive muito chega ao fim da vida com poucos amigos, pois quase todos já morreram. Vir a um velório de uma pessoa com tanta vivência e ver tantos amigos desta pessoa reunidos é uma alegria”, comentou Toffoli, apontando que a presença de tantas pessoas que conviveram com o fotógrafo é a prova do quanto sua vida valeu a pena.

“O Gervásio é uma figura histórica do jornalismo brasileiro, um exemplo de vida. Ele era uma pessoa extremamente gentil, bondosa e que, nos momentos de tensão, sempre vinha com uma brincadeira ou uma palavra de ânimo”, acrescentou Toffoli ao anunciar que, ainda este ano, o STF fará uma nova exposição de parte do trabalho de Gervásio. “Vamos remontar uma exposição que já foi feita no passado, em homenagem a ele”.

O destino da maior parte do acervo do fotógrafo é ignorado. As fotos que ele e outros profissionais produziram para a revista Manchete foram leiloadas junto com a massa falida da empresa e o comprador, que não é do ramo editorial, não disponibilizou o acesso público aos arquivos. As edições na íntegra da revista Manchete fazem parte da Hemeroteca Digital Brasileira, mantida pela Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro.

A repórter Marlene Galeazzi conheceu Gervásio na Manchete, ainda na década de 1970.

“Ele era uma pessoa muito brincalhona, que contava muitas histórias, e que trabalhava muito. Ele não largava a câmera um minuto e ensinava muito a todos nós. E, até o fim, preservou a boa memória e a disposição”, contou Marlene, destacando a importância do resgate das fotos de Gervásio. “Juntas, elas formam um documento histórico. A equipe da Manchete fazia grandes matérias aqui, no Brasil, e no mundo. Parte das imagens eram vendidas para agências internacionais Estas imagens precisariam ser recuperadas e a pessoa que as comprou deveria dar acesso a todo o material”, acrescentou a jornalista.

A jornalista Andrea Mesquita trabalhou com Gervásio quando chefiava a equipe de comunicação do STF. Segundo ela, com o avançar dos anos, o fotógrafo começou a enfrentar momentos difíceis, mas nem assim perdeu o bom humor. “Ele quase não falava da vida pessoal. Sabemos que ele deu um duro danado para sustentar a família e que quando a esposa [já falecida] teve um câncer, isso o baqueou muito. Ele teve que trabalhar até os 90 anos, mas não se queixava. O que ele contava era das suas realizações profissionais e pessoais, que dançou com atrizes, que fotografou as misses. Era uma pessoa incrível e, para um jornalista, ouvi-lo era um privilégio.”

O fotógrafo Gervásio Baptista morreu aos 95 anos - Marcelo Camargo/Agência Brasil