sexta, 19 de abril de 2024
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Trading esportivo: investimento ou aposta?

Operação tem semelhanças com o day trade e ainda é pouco conhecida no Brasil

12 novembro 2021 - 17h43Por Redação SpaceMoney

As apostas esportivas chegaram para valer no Brasil. Nos últimos anos, esse universo vive um verdadeiro crescimento exponencial no país, com uma diversificação das casas de apostas cada vez maior. Entre as opções disponíveis, está o trading esportivo. Ainda pouco conhecida no Brasil, essa operação muitas vezes é classificada como "investimento" pelos praticantes. Porém, embora o modo de atuar guarde certa similaridade com operações de trade do mercado financeiro, o especialista em renda variável da Ativa Investimentos, Felipe Vella, atenta para a necessidade de se diferenciar as duas coisas.

“O trading esportivo não é tido como um investimento no Brasil, mas sim como um jogo de azar. Consequentemente, ele não é um ‘investimento’ regulado pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários)”, explica Vella. "A semelhança principal do trading esportivo com o day trade é o fato de o resultado financeiro ser exercido no mesmo dia. No entanto, a operação está mais próxima de uma aposta do que com o day trade em si”, acrescenta Felipe Vella
Mas, independentemente de ser ou não um investimento, há apostadores que levam o trading esportivo a sério e dizem lucrar com esse tipo de aposta. 

Confira como funciona!

Compra e venda de "palpites"

Basicamente, o trader esportivo é aquela pessoa que compra e vende "palpites" de um evento esportivo na "bolsa de valores esportiva", como são chamadas as casas que intermediam as apostas entre os usuários.

Juliano Fontes, trader esportivo e CEO do Appost, explica que o trading esportivo é uma modalidade em que você aposta contra outras pessoas ao invés de apostar contra a casa de apostas. “Nela, são os próprios apostadores que definem as cotações (lucro sobre o valor apostado), e as apostas podem ser vendidas para terceiros no meio da partida. Por exemplo: num jogo do Brasileirão Palmeiras x Flamengo, você pode apostar que o Palmeiras vai ganhar, enquanto outro apostador, de qualquer lugar do planeta, aposta contra você. Ou seja, se der empate ou Flamengo, o outro apostador ganha”.

Nesse exemplo citado por Juliano é possível entender a principal diferença do trading esportivo para as apostas esportivas. Se o trader errar o palpite, não há uma “casa” para ficar com o valor apostado, mas sim outro trader.

“Nas apostas esportivas, você aposta contra o site (ou cassino). Seu lucro é menor, e caso você seja muito lucrativo, os sites podem bloquear ou limitar sua conta, pois esses sites foram feitos para apostadores recreativos, e, pelos Termos e Condições dos mesmos, eles têm a liberdade de te ‘convidar para sair’. Isso não ocorre no trading esportivo, pois você aposta contra outras pessoas, então a bolsa de trading apenas intermedia as apostas, e fica com uma pequena corretagem sobre o lucro. Mesmo com essa corretagem, o lucro ainda é 7% a 10% maior”, explica o trader.

Por ser um dos esportes de maior popularidade no mundo, o futebol é o responsável por ter a maior parte das operações. No entanto, também é possível apostar também no basquete, futebol americano, tênis, Fórmula 1 e até corrida de cavalos.

Como funciona o trading esportivo?

Juliano Fontes conta que há duas grandes vantagens no trading esportivo, em especial as “maiores cotações”.

“Somente o fato de você apostar contra outras pessoas já torna seu lucro maior, porque não existe margem de lucro das casas de apostas. Apenas de migrar de aposta para trading seu lucro já se torna de 7% a 10% maior. Outra vantagem é você poder vender sua aposta no meio do jogo, com um lucro justo sobre o valor apostado. Exemplo: se o Palmeiras faz um gol, você vende seu ‘bilhete’ de apostas para outra pessoa, embolsando metade do lucro, mas como você saiu no meio da aposta, o Flamengo pode virar o jogo, que seu lucro estará garantido, e o risco ficou com o comprador do seu ‘bilhete’”, acrescenta.

Como esse tipo de atividade é baseado em probabilidades sobre resultados de eventos esportivos, um dos seus principais diferenciais para ter ganhos é fazer duas aplicações diferentes em um único evento.

O trader pode realizar operações de duas formas:

- a favor de um acontecimento em uma partida esportiva (“back”)

- contra a ocorrência de um evento em uma partida esportiva (“lay”)

O lucro ocorre sempre que esse trader consegue vender uma ação por um valor superior ao que comprou.

Negócio ou hobby?

Muitas pessoas enxergam o mundo das apostas e trading esportivo com um mero passatempo, enquanto para outras essas atividades se tornaram verdadeiras profissiões.

“Eu considero mais uma possibilidade de trabalho, numa modalidade relativamente parecida com o Poker. Assim como existem jogadores recreativos, também existem os profissionais, que se dedicam horas por dia e participam de grandes torneios. No trading esportivo, existem os que jogam por diversão, hobby e adrenalina, mas também há os que se dedicam para obterem uma renda outra ou até mesmo se profissionalizarem”, afirma Juliano Fontes.

O trader contou uma de suas experiências mais marcantes na modalidade, em um dia que teve literalmente de separar a paixão de torcedor e seguir o lado mais racional.

“Meu exemplo mais famoso no trading esportivo foi no famoso 7x1 que o Brasil sofreu na Copa do Mundo de 2014. As cotações estavam bem equilibradas, com muitos apostadores acreditando que a chance de o Brasil ganhar a partida era em torno de 50%. No início do jogo já era possível perceber que a Alemanha estava bem melhor, mesmo com o jogo 0x0, então fazia muito sentido apostar contra o Brasil (lucro se der vitória da Alemanha ou empate nos 90’ - nesse caso não conta a prorrogação). Então a mistura de sentimentos foi terrível. De um lado, se o Brasil ganhasse, a aposta seria perdida. Por outro, se o Brasil perdesse, eu ficaria bem chateado com a situação, mas haveria um bom retorno financeiro. O final disso todos já sabem qual foi”.

(Falta de) Regulamentação do trading e das apostas esportivas no Brasil

Como se trata de movimentações de dinheiro baseadas em resultados de jogos ou atuações de atletas, o trading esportivo precisa antes de mais nada ser regulamentado. No entanto, aqui no Brasil, isso ainda não ocorreu. 

“O trading esportivo não é regulamentado no Brasil pelo simples fato de ainda não ter chamado a atenção das autoridades públicas. Trata-se de um modelo de negócio ainda novo no Brasil, que aos poucos vai caindo no gosto do brasileiro e atraindo mais adeptos. Conforme o número de traders crescer e as receitas movimentadas forem significativas, é provável que o Governo venha a regulamentar o trading esportivo, seja para dar balizas aos operadores, seja para aumentar a sua arrecadação e controle”, avalia Rafael Marcondes, advogado, professor e mestre em direito tributário.

Nesse mesmo cenário, as apostas esportivas também não são regulamentadas, mas já estão em um estágio avançado em comparação com o trading esportivo.

“As apostas esportivas foram legalizadas no Brasil em 2018, por meio da Lei 13.756. O que pende, no momento, é a sua regulamentação. O trading esportivo, até o momento, não conta com lei ou regulamentação, porém sua prática acontece pautada no fato de ser um jogo de habilidade, pois requer do trader estudo e análise de dados estatísticos, o poker e o fantasy sport game. Como o mercado brasileiro ainda não foi regulamentado tanto para as apostas esportivas quanto para o trading, as empresas que operam no Brasil se utilizam de plataformas hospedadas no exterior. Com isso, se o usuário tiver algum problema, ele terá que acionar a empresa no exterior, o que gera insegurança e reforça a necessidade de uma rápida regulamentação dessas atividades pelo governo brasileiro”, explica Marcondes.

Em 12 de dezembro de 2018, o então presidente Michel Temer sancionou a Lei 13.756, que trata da legalização das apostas esportivas, tanto por meio físico quanto digital, e da destinação de recursos de loterias para o Fundo Nacional de Segurança Pública. No entanto, isso não quer dizer que “os jogos de azar” foram liberados no Brasil. A legislação ainda depende de regulamentação, com o governo tendo o prazo de dois anos, prorrogáveis por mais dois, para fazê-lo — ou seja, até o final de 2022.

Além da falta de segurança, a ausência de regulamentação do trading esportivo no país também é responsável por manter o desconhecimento dessa atividade dos brasileiros, inclusive de amantes do esporte.

“Há 10 anos era, de fato, desconhecido por praticamente toda a população brasileira. Hoje já é um pouco mais conhecido, mas ainda estamos ‘arranhando a superfície’. Esse mercado tem muito a crescer, principalmente com a potencial regulamentação. Acredito que em breve poderá se tornar cultural essa modalidade no Brasil”, afirma Juliano Fontes.

Em países onde essa operação é permitida, as negociações ocorrem mas chamadas "bolsas esportivas". A mais conhecida e utilizada é a Betfair, fundada no ano 2000. Entre as principais do mundo também estão Betdaq; Smarkets; WBX; Matchbook e Ladbrokes Exchange.