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Open Insurance: novo sistema promete revolucionar o setor de seguros, mas sofre críticas

Entretanto, de acordo com o sócio e superintendente de Gestão Patrimonial da Blue3, Rafael Rezende, modelo conta com vantagens que estimularão concorrência

29 setembro 2021 - 08h16Por Lucas de Andrade
 - Crédito: Adeolu Eletu via Unsplash

 

Na esteira das transformações trazidas aos bancos pelo Open Banking, outro desafio, tão ou mais complexo, surge: o Open Insurance

A Susep (Superintendência de Seguros Privados) define o modelo como “compartilhamento padronizado de dados e serviços por meio da abertura e integração de sistemas no âmbito dos mercados de seguros, previdência complementar aberta e capitalização”.

Em termos mais simples, significa que as informações sobre um consumidor que estão em poder da seguradora poderão ser acessadas por todas as empresas do segmento.

Entretanto, essa troca de dados depende de prévio consentimento por parte dos respectivos clientes e deve ocorrer mediante um consenso entre diversas empresas do setor para a criação de um sistema único e padronizado, que reúna as informações desse mercado.

Como toda grande novidade, o open insurance traz riscos e oportunidades num momento em que a digitalização impacta toda a sociedade, o que divide opiniões.

Entenda o debate em torno da implementação e as possíveis consequências da adoção desse conceito no mercado de seguros.

Open insurance: o que significa?

Com o objetivo de aumentar a concorrência entre as companhias do ramo e oferecer produtos melhores por valores mais baratos, por meio do open insurance um cliente poderia disponibilizar seus dados, que já estão em uma determinada seguradora, para serem pesquisados por outra. 

Esse sistema único permitiria, entre outras possibilidades, a criação de novos produtos relacionados a serviços seguradores, à medida que o mercado estudaria as necessidades dos consumidores mediante a incorporação de dados de milhões de segurados.

De acordo com o planejamento da Susep, o open insurance tem o objetivo de ser interoperável com o open banking. Assim, ambos formam um ecossistema mais amplo, denominado Open Finance.

Modelo revoluciona indústria e pressiona concorrência, mas há críticas

Para Rafael Rezende, sócio e superintendente de Gestão Patrimonial da Blue3, o open insurance premia os players que “trabalham de forma correta e eficiente”. Rezende acredita que, a exemplo do que o open banking proporciona a clientes, bancos e corretoras de investimentos, o open insurance “vai revolucionar a indústria de seguros”.

O executivo afirma que a rapidez e a riqueza de detalhes dos produtos contratados por um cliente são essenciais para auxiliar e averiguar se o atendimento procedeu de forma correta e se o contratante do serviço adquiriu os produtos certos para as suas necessidades.

As consequências serão positivas para os corretores que trabalham de forma eficiente, figura que permanece como primordial. “O corretor que não desenvolve um trabalho correto passa a ficar exposto e as famosas vendas ‘empurradas’ ficarão cada vez mais difíceis de serem sustentadas”, avalia Rezende. Assim, o mercado seria guiado pela demanda e desejo do consumidor, e não pela oferta ou imposição das empresas.

Nem todos compartilham do mesmo otimismo.

A CNSeg (Confederação Nacional das Seguradoras) alega que a estrutura do open insurance tem um prazo impossível de ser realizado e que o debate em torno do tema deveria ser feito de forma “ampla e profunda”. A entidade, que representa as seguradoras tradicionais, não concorda que as empresas novatas — em fase de experimentação — participem do movimento.

Essa “fase de experimentação” consiste em um prazo de até 36 meses, em que novas empresas “testam” novos produtos e serviços, com a supervisão da Susep. A CNSeg contesta que a supervisão não significa regulação e, portanto, essas novas empresas poderiam sair impunes caso utilizassem de maneira errada os dados obtidos com o open insurance.

“Sob a ótica das seguradoras, além de não haver previsibilidade de custos ou estimativa do esforço operacional que será exigido pela nova regulamentação, cresce a insegurança quanto ao equilíbrio do ambiente competitivo que surgirá. Quanto mais nos aproximamos da data prevista de implementação, mais dúvidas surgem, sem respostas, por enquanto”, afirmou a CNSeg, em publicação oficial.

Além disso, agentes do mercado de seguros argumentam que o open insurance não reduz o custo do seguro. Rezende, porém, minimiza as críticas. “O open insurance intensifica a concorrência entre os participantes desse mercado. Como isso poderia trazer riscos para o consumidor?”, questiona.

Na avaliação do superintendente da Blue3, as seguradoras que resistirem ao movimento de digitalizar suas operações sairão no prejuízo. Mas, em algumas áreas, essa transição precisa ser ainda mais acelerada: menos de 10% do total da carga de trabalho do setor de seguros está armazenado em nuvem, por exemplo, segundo o estudo ‘O Valor da Nuvem Para o Setor de Seguros’, realizado em junho deste ano pela Accenture, que reúne casos das maiores seguradoras do Brasil e dos EUA. 

“A digitalização nos permite simplificar e agilizar todos os processos do mercado segurador. Seja na ponta das seguradoras, das corretoras ou na ponta do cliente”, conclui.

Cronograma de implementação do open insurance

O Open Insurance foi projetado para ser implantado em três fases, agendadas e definidas da seguinte forma:

Fase I: Open Data
Início: 15 de dezembro de 2021  
Término previsto: 30 de junho de 2022

Na primeira fase, serão compartilhados os dados públicos das seguradoras, como canais de atendimento e produtos disponíveis para seus clientes.

Fase II: Compartilhamento de Dados Pessoais
Início: 1 de setembro de 2022 
Término previsto: 15 de junho de 2023

Já na segunda fase serão incluídos os dados pessoais, como, por exemplo, o histórico de pagamentos, dados da apólice e sinistros e dados cadastrais referentes a seguros, previdência e capitalização, a partir do consentimento do cliente.

Fase III: Serviços de Seguros
Início: 1 de dezembro de 2022 
Término previsto: 15 de junho de 2023

Por fim, na terceira fase serão realizadas modificações ou endossos, acessos, resgates e avisos de sinistros, com foco na melhoria da experiência dos clientes. 

Nesta fase, iniciarão as atividades das Sociedades Iniciadoras de Serviços de Seguros (SISS), a serem regulamentadas pela Susep, para atuarem como prestadoras de serviços, com agregação de dados e dashboards, ou como representantes do segurado, que auxiliarão o cliente, por exemplo, na contratação, aviso de sinistros e outros.

Tags: Blue3, CNseg, Susep