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Poupança apresenta pior rendimento real em 30 anos; e agora, onde investir?

Investimento preferido entre milhões de brasileiros, modalidade amarga perda de valor real de 7,15% em doze meses, segundo Economatica

21 setembro 2021 - 12h14Por Lucas de Andrade

 

Queridinha entre os brasileiros, a rentabilidade da caderneta de poupança não tem feito jus à sua popularidade. Quase um terço dos investidores do país dizem preferir essa modalidade de investimento, segundo a Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), mas, com a inflação acumulada de 9,68% de agosto de 2020 até o mês passado, houve perda de valor real de 7,15% na caderneta de poupança no mesmo período. 

Esse nível de perdas foi o maior desde outubro de 1991, quando o poupador perdeu 9,72% do poder aquisitivo em um ano, segundo cálculos da plataforma Economatica.

Cabe ressaltar que essa poupança, chamada de “nova poupança”, vigora desde 2012, quando o governo federal alterou as regras aplicadoras. Desde então, chama-se “antiga poupança” aquelas que tinham depósitos realizados até o dia 3 de maio daquele ano. 

Quem manteve o dinheiro na caderneta “antiga” conta com rendimento de 0,5% ao mês mais a Taxa Referencial (TR), zerada desde 2017. Por ano, o retorno total é de 6,17% e livre de Imposto de Renda (IR).

Nova ou antiga, a poupança não é atrativa

De acordo com Eliseu Hernandez, sócio e líder da mesa de renda fixa da Blue3, a poupança não é tão atraente porque apresenta uma rentabilidade negativa real e não nominal (em reais). Ele explica: “Essa rentabilidade desconta a inflação, ela rende 70% da Selic mais a Taxa Referencial (TR), zerada desde 2017. Com a taxa em 5,25%, ela, grosseiramente, rende 3,675%”. 

“A poupança só não perde para a capitalização como o pior rendimento possível que existe no mercado brasileiro”, afirma Hernandez. “Caso a Selic ultrapasse 8,5%, a poupança começa a rentabilizar 0,5% + TR. Ela, grosseiramente, vai render 6% ao ano. Ainda assim, no cenário atual, perderia para a inflação”.

Hernandez relembra que a taxa Selic iniciou o ano de 2021 aos 2,00%, mas, segundo projeções do Boletim Focus, pode chegar a 8% ao fim do exercício. “A poupança pode render 1,14%, nesse cenário”.

Por que ela continua popular?

A quarta edição do “Raio-X do Investidor”, publicado pela Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) neste ano, mostra que o Brasil ainda tem poucos investidores — apenas 40% têm algum tipo de aplicação financeira. 

Entre eles, a poupança foi apontada como o investimento preferido, utilizada por 29% dos investidores - 30 milhões de brasileiros das classes A, B e C -, mas com queda de oito pontos percentuais em relação a 2019.

Para Hernandez, as pessoas ainda não abriram os olhos para outras modalidades de investimento por falta de conhecimento. “Muitas vezes, as pessoas não sabem como investir, quais outros tipos de produtos estão disponíveis”, diz.

E há, ainda, a praticidade, que o executivo acredita ser um dos fatores que explicam a popularidade da poupança: “Aqui no Brasil, desde sempre, você vai ao banco, aplica o seu dinheiro e atrela esse tipo de investimento até mesmo à conta-corrente. Você vê que ela não tem nenhum atrativo porque os bancos sequer conseguem concorrer entre si ao oferecer a poupança. Não existe competitividade porque os serviços precisam ser os mesmos”.

Comece a investir mesmo com pouco e diversifique sua carteira

Hoje em dia, até os bancos mais tradicionais e muito mais os digitais oferecem todo um amplo serviço de investimentos para que cada vez mais brasileiros consigam diversificar sua carteira.

“Se a Selic chegar a 8,5% e aí você engancha um Tesouro Direto, na LFT (Letra Financeira do Tesouro), aquele pós-fixado, seu rendimento vai ser 8,5%. ‘Ah, mas tem imposto!’ Mesmo com imposto, a LFT rende mais. Só mesmo por desconhecimento que as pessoas escolhem a poupança”, diz.

“Eu diria que esse seria o mais fácil e mais prático, tanto quanto a poupança”, afirma Hernandez. “Isso vai melhorar e muito os seus rendimentos!”

Vamos a um outro exemplo: caso você aplique R$ 100 hoje no Tesouro Prefixado com juros semestrais 2031, e separe esse mesmo valor todos os meses, em janeiro de 2031 você teria o rendimento de R$ 18.952,34 ante R$ 13.872,87 obtidos na caderneta de poupança.

Mas, caso você queira fazer a diferença com o seu dinheiro, o melhor mesmo seria montar uma carteira diversificada de investimentos.

“Aí você vai poder possuir vários títulos de renda fixa, uma carteira de ações, carteira de fundos multimercado… E não precisa de muito dinheiro. A partir de R$ 100, você consegue montar uma carteira como você quiser”, conclui o executivo.