sexta, 29 de março de 2024
Projeções

EUA: "menos liquidez, mais volatilidade", efeitos do tapering na economia em 2022

Junto com o impacto de um estímulo monetário menor, provavelmente vem a escalada dos juros, explica José Gonzales, sócio-gerente da GCG Advisors

10 janeiro 2022 - 08h24Por Investing.com

Por Carjuan Cruz, do Investing.com México - Embora 2022 tenha começado com uma nova onda de casos de Covid-19, devido à variante ômicron, mais contagiosa, o mercado parece estar confiante de que os efeitos sobre a economia serão menores.

Por enquanto, considera-se improvável que possa haver uma reversão das políticas monetárias anunciadas pelo Federal Reserve dos EUA em relação ao fim rápido do tapering e a possibilidade de três aumentos das taxas de juros ao longo do ano, embora ainda existam preocupações com o aumento do número de infecções, especialmente em função de possível absenteísmo laboral e que a ata da última reunião divulgada na última quarta-feira (5) tenha mencionada a possibilidade de redução do balanço do Fed (ou seja, retirada de dinheiro do mercado).

De qualquer modo, a redução do tapering, agora de forma mais agressiva, implica a redução da liquidez monetária que aumentou dramaticamente durante a pandemia. E, junto com o impacto de um estímulo monetário menor, virá a provável escalada dos juros.

José Gonzales, sócio-gerente da GCG Advisors, firma de consultoria financeira sediada em Nova York, explica ao Investing.com quais seriam os efeitos imediatos sobre a economia, especialmente sobre o sistema financeiro e o consumo.

Investing.com: Quais são os possíveis efeitos de um tapering acelerado?

José Gonzales: Para os mercados financeiros, à primeira vista, eles parecem não existir.

Apesar de uma certa volatilidade no comportamento diário das negociações envolvendo ações, títulos, commodities e criptos, os mercados estão aparentemente tentando ignorar a lógica do que poderia representar uma redução da liquidez monetária com a qual estão acostumados desde 2008, e em vez disso disso os mercados continuam alcançando níveis recordes no fim do ano.

O efeito, contudo, pode ser um "impulso", na medida em que a redução da liquidez deveria, a princípio, ter um impacto sobre o que o ex-presidente do Federal Reserve do Kansas, Thomas Hoenig, chama de "efeito alocativo", ou a quantidade de recursos financeiros que são posicionados em ativos financeiros em ambientes de "taxa zero", criando "inflação de ativos", que são normalmente chamadas de "bolhas".

Inv.com: Como esta redução da liquidez vai começar a ser refletida na economia?

JG: Já a vemos na volatilidade dos ativos financeiros, na pressão sobre as taxas de juros, na redução dos preços das commodities, no fortalecimento do dólar e, se a estratégia de rigor do Fed for bem-sucedida, na redução da pressão inflacionária.

Embora este último dependa não só da redução da liquidez, mas também da resolução dos nós logísticos nas cadeias de fornecimento que vem pressionando a inflação pelo lado da oferta.

Isto, por sua vez, tornou-se ainda mais complicado devido a uma mudança estrutural na demanda global, na qual a pandemia gerou uma migração da demanda por serviços para a demanda por bens.

Inv.com: Como isso poderia afetar o sistema financeiro?

JG: Vai depender da dimensão e da força do balanço de cada instituição financeira, já que uma redução da liquidez e um aumento das taxas de juros tendem a favorecer a intermediação financeira desde que os ativos bancários continuem como estão não sejam afetados pela sua deterioração face a seus passivos.

Em geral, os bancos norte-americanos e de países desenvolvidos, e os bancos de economias emergentes como a China, são bastante sólidos e não devem ter grandes problemas.

Isto pode não acontecer em países com problemas de conta corrente na balança de pagamentos ou com exposição ao crédito de consumo, com deterioração na distribuição de renda.

No caso dos Estados Unidos, por outro lado, o Fed criou um mecanismo de compensação para os bancos, na medida em que a redução da flexibilização quantitativa é acompanhada por um aumento substancial nas operações compromissadas (acordo de recompra).

Inv.com: O consumo pode se desacelerar, mesmo com a recuperação da oferta?

JG: Este é certamente um dos riscos, mas o Fed, o Banco da Inglaterra e o Banco Central Europeu determinaram que a inflação, que já não é mais considerada "transitória", é um risco tal que é necessário começar a abordá-la através da redução da assistência monetária e do aumento das taxas de juros.

O único grande banco central que está fazendo o oposto é o Banco Popular da China, que está diminuindo as taxas; contudo, a discrição do governo chinês na política econômica não tem paralelo no Ocidente.

Inv.com: Se o primeiro aumento dos juros acontecer em março, seguido por duas outras mais tarde no ano, haverá mais efeitos positivos que negativos?

JG: Positivos, sem dúvida, reduzindo a pressão inflacionária gerada pelo aumento da liquidez resultante da assistência monetária e fiscal, sendo o maior risco o de afetar a recuperação econômica pós-Covid, que permanece incerta em relação a 2023, afetando, por sua vez, os mercados financeiros, que também serviram de barômetro e incentivo à confiança das empresas e ao consumo de varejo nas economias desenvolvidas durante a pandemia.