sábado, 20 de abril de 2024
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Albert Morales

General Manager na Belvo

Nubank entrou no Open Finance: o que vem por aí para bancos digitais e bancões

Com 62,3 milhões de clientes, a adesão do Nu tem potencial para movimentar o modelo de uma forma que ainda não estávamos vendo muito no Brasil

10 outubro 2022 - 14h55
Nubank entrou no Open Finance: o que vem por aí para bancos digitais e bancões

O mês de setembro começou com a notícia da entrada do Nubank na fase II do Open Finance, que permite que clientes compartilhem suas informações financeiras com novas instituições. Relembrando que, por ser uma instituição S3, o Nubank tinha adesão voluntária, então não teve necessidade de entrar no escopo do Banco Central desde o início do processo no Brasil, ainda com o nome de Open Banking, em 2021.

Com 62,3 milhões de clientes, a adesão do Nu tem potencial para movimentar o modelo de uma forma que ainda não estávamos vendo muito no Brasil. Um sinal claro disso são as cobranças que víamos os próprios clientes fazendo nas redes sociais pedindo que o roxinho aderisse ao Open Finance: com uma clientela tech savy e jovem, muitos dos quais já estão concentrando todas, ou quase todas, as suas operações financeiras no ambiente do Nu, é possível que vejamos uma porcentagem significativa dos usuários do banco utilizando o compartilhamento de dados para trazer suas informações que ainda estão alinhadas a outras instituições.

Um dos principais casos de uso para bancos digitais nesse sentido será a análise do perfil de crédito, tanto para clientes novos quanto para já existentes. Os neobancos conseguem atrair facilmente um público jovem e aficionado por tecnologia, além de pessoas que buscaram serviços mais baratos que os oferecidos tradicionalmente por bancões. Mas é inegável que as instituições mais tradicionais têm (pelo menos até agora) um conhecimento muito mais amplo do histórico financeiro de seus clientes, que muitas vezes são correntistas há décadas.

Isso faz com que a oferta de crédito por parte dos neobancos, apesar de atraente pela praticidade na hora de criar a conta e ausência de taxas, ainda seja inadequada para a realidade de muitas pessoas, com as instituições sendo bastante conservadoras em relação a limites de cartão ou empréstimo pessoal para a grande maioria dos clientes. Não é incomum que um cliente de bancos como o Nubank peça seu cartão, utilize-o por alguns meses, e use sua informação de pagamentos em dia para tentar um limite maior em uma instituição tradicional. 

Com o Open Finance, vemos a possibilidade de que os neobancos possam competir com maior igualdade nesse sentido, aliando a facilidade das contas digitais e aplicativos modernos com ofertas de crédito capazes de reter seus clientes. Eles também têm a vantagem adicional de contar com um público que, muitas vezes, é mais aberto à ideia de compartilhar dados: são millennials e gen-z que para os quais aceitar processos de segurança de dados digitais já é parte da vida, assim como produtos financeiros que exigem esse compartilhamento.

Você tem uma pessoa que sabe o que é autenticação de dois fatores e a adota pra assegurar sua presença digital, sabe o que é encriptação de informações, entende que suas informações circulam todos os dias com segurança através desses sistemas. Ela provavelmente também já usa um gerenciador de finanças pessoais, recebe (e confia em) conselhos de planejamento financeiro ou investimento gerados por inteligência artificial. O Open Finance não a amendrotará tanto quanto pode amedrontar ou parecer intimidador para o consumidor médio.

Outra vantagem para neobancos são os insights sobre novas plataformas. É natural que novos bancos e bancos digitais tenham um portfólio menor de serviços do que uma instituição tradicional, e que sejam conservadores na hora de decidir em qual solução nova investir. Com os dados de Open Finance, essa decisão se torna mais acertada.

O outro lado da moeda

Mas e os bancões, só saem perdendo para os novos? O que instituições, independentemente de tamanho, devem fazer com o usuário que está “saindo”?

Nós costumamos falar muito sobre a vantagem de receber dados via Open Finance, e é nisso que as instituições estão focando seus esforços em termos de análise e inteligência de informações. Mas há um ponto muito valioso também, e que instituições espertas irão prestar atenção com bastante cuidado, ao perceber que seu cliente está tirando os dados da sua instituição para compartilhá-los com um concorrente direto, ou mesmo com uma financeira de outra natureza: essa será a melhor e mais confiável pesquisa de mercado que seu banco jamais fará. E é aí que estará o pote de ouro.

Quem trabalha no setor sabe que pesquisas qualitativas com usuários muitas vezes precisam ser encaradas with a grain of salt, mas os dados do Open Finance não mentem. Ao ver que seu cliente está compartilhando os dados de uma natureza específica com outro banco, você consegue ver, claro como o dia, o produto que está faltando no seu portfólio, ou onde sua solução existente pode ser aprimorada.

Para bancões, isso traz uma vantagem adicional: suponha que muitos clientes de um banco tradicional estão transmitindo seus dados para o ambiente de um PFM específico, ou de uma ferramenta que facilita o imposto de renda. Um diretor de operações pode ver essa movimentação e perceber que é vantajoso para o banco comprar a ferramenta para a qual seus clientes estão indo, e passar a oferecer um serviço adicional, em vez de criar uma solução do zero e competir com o hábito já estabelecido de sua base.

Isso tudo, é claro, leva tempo. Apesar do Open Finance já contabilizar mais de 7,5 milhões de consentimentos de dados de clientes, sabemos que a amostra ainda é pequena em relação ao mercado consumidor no Brasil. Também, como já comentei por aqui antes, a maior parte dos compartilhamentos ainda está numa fase genérica, com instituições prometendo “melhores ofertas” ou “soluções personalizadas” sem detalhar exatamente o que pretendem fazer com aquela informação.

Se eu começar a listar todos os possíveis casos de uso que podem ser oferecidos aqui, não vou parar mais, mas creio que podemos concluir essa reflexão com o pensamento de que, sim, a entrada do Nu no Open Finance é um momento empolgante para o mercado de forma geral, que deve potencializar a adesão ao modelo, e que os benefícios estão aí tanto para bancos receptores de novos dados, quanto para os que os estiverem transmitindo, sejam pequenos ou grandes. A verdadeira questão não é quem vai receber ou transmitir mais dados, mas quem vai fazer melhor uso dessas informações? A competição passa a ser sobre inovação e qualidade de serviços, e o mercado e consumidores só têm a se beneficiar dessa efervescência.  

A opinião e as informações contidas neste artigo são responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, a visão da SpaceMoney.