sexta, 29 de março de 2024
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Albert Morales

General Manager na Belvo

Investimentos e Open Finance: o que está por vir

A facilidade de acesso irá crescer, e empresas e reguladores devem aproveitar esse momento para ajudar o brasileiro a construir uma mentalidade de investimento com transparência e responsabilidade

04 julho 2022 - 16h22
Investimentos e Open Finance: o que está por vir

O ecossistema brasileiro nunca esteve tão atraente para novos investidores.

Sim, é isso mesmo que você leu. Independentemente das tendências econômicas variáveis que, é claro, afetam a capacidade de ter dinheiro para investir, é possível fazer este diagnóstico ao olhar para as inovações e mudanças estruturais que estão tornando o investimento mais fácil e desejável entre a população, criando o que pode ser um hábito necessário e permanente.

Temos algumas pistas nesse sentido. Segundo a B3, há 4,2 milhões de CPFs únicos cadastrados na Bolsa de Valores. Nos últimos 12 meses, a Bolsa teve aumento de 1,5 milhão de investidores no mercado de capitais, crescimento de 56% na comparação com dezembro de 2020.

Outro dado chama a atenção: os primeiros investimentos em renda variável estão sendo feitos com valores cada vez mais baixos, o que evidencia a popularização do mercado financeiro. A maior parte dos novos investidores na Bolsa tem salário de até R$ 5 mil por mês.

Sabemos que a poupança ainda domina a carteira do brasileiro. Estima-se que 40% dos adultos do país são investidores, e 29% deles investem nesta modalidade. Mas a oportunidade para atrair consumidores para produtos melhores e mais sofisticados está maior do que nunca.

Educação financeira 

O primeiro passo para que essa movimentação se transforme em independência, geração de riqueza e patrimônio e tranquilidade para o brasileiro, e não em uma nova fonte de gastos mal planejados ou endividamento, é a educação financeira.

Neste sentido, canais digitais que desmistificam o mercado financeiro e aplicativos de gerenciamento de finanças pessoais prestam um serviço fundamental para a população. 

Um exemplo claro está na previdência dos brasileiros. A casa de análises de investimentos Spiti lançou levantamento recente que mostra que 96% dos fundos de previdência de renda fixa rendem abaixo a taxa Selic nos últimos 10 anos. Quantas pessoas estão perdendo uma renda potencial importante para seu futuro e o de suas famílias porque aceitaram uma oferta ruim?

Isso também atinge, como é de se imaginar, investidores de renda variável. Daniel Fuks, educador financeiro e ex-diretor da área de previdência da gestora Gávea, afirmou à Exame que, em sua experiência, a maior parte dos investidores na Bolsa não têm noções básicas de finanças: “Eles não passaram pela lição número um, que é aprender a lidar com o próprio dinheiro, e já querem partir para o day trade. Se você perguntar como ele analisa os ativos, se sabe quais as vantagens fiscais de cada produto de investimento, ele não sabe responder”, afirma.

O poder dos dados abertos

Mas como podemos potencializar a capacidade de investimento do brasileiro juntando facilidade de acesso à escolha de bons produtos financeiros? O Open Finance permite que os dois fatores sejam unidos graças à disponibilidade de dados e modelos avançados de análise.

Vemos um bom passo nessa direção na nova leva de apps de investimentos, que têm um componente educacional mais forte. Para aqueles que se propuserem a oferecer análises de perfil mais sofisticadas que os atuais questionários de propensão ao risco, os dados de Open Finance impactarão significativamente a proposta de negócios. 

Será possível entender mais sobre a renda, o empregador, inferir o nível de complexidade das operações financeiras deste usuário. Com isso, será possível fazer uma assessoria muito mais adequada para o cliente, no lado de gerenciamento de finanças pessoais. Isso potencializará, inclusive, os modelos de recomendação de carteira baseados em inteligência artificial, que hoje contam com uma base de informações rasa para fazer recomendações assertivas.

Mais concorrência, produtos melhores

A notícia é ótima para o consumidor. A era de oferecer produtos ruins contando com a falta de concorrência ou cobrar taxas administrativas que corroem qualquer ganho do cliente pode acabar conforme bancos sejam forçados a revisar e adaptar suas ofertas, começando pelos preços.

Já vemos instituições tradicionais buscando se adaptar ao novo universo criando veículos separados focados em facilidade do investimento, ou mesmo comprando corretoras e empresas especializadas em gerenciamento de finanças pessoais. É o poder da concorrência, que chega com a revolução fintech e só tende a aumentar quando clientes tiverem poder sobre seus dados financeiros.

A facilidade de acesso irá crescer, e empresas e reguladores devem aproveitar esse momento para ajudar o brasileiro a construir uma mentalidade de investimento com transparência e responsabilidade. 

“No Brasil, somos carentes de educação financeira, então o consumidor é mais suscetível a aceitar ofertas ruins. Então há uma responsabilidade grande do regulador e das fintechs para não empurrar produtos ruins para os clientes”, pontuou Antonio Rocha, CEO da Onze, em debate na conferência Open Views 22.

O novo paradigma sobre investimentos tem grande potencial de melhorar a vida de milhões de pessoas, já investidoras e novas, e este potencial passa pelos dados abertos. Ainda ouviremos falar muito sobre Open Finance para esta área da vida financeira.

A opinião e as informações contidas neste artigo são responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, a visão da SpaceMoney.