quinta, 18 de abril de 2024
Bolsa de valores

Semana na bolsa: ataques e recuo de Bolsonaro, inflação e instabilidade econômica mexeram no mercado

Líder em produtos e alocação de renda variável da Blue3, Victor Licarião comenta os destaques

10 setembro 2021 - 18h27Por Redação SpaceMoney

O Ibovespa encerrou a semana com uma queda de 2,12%, aos 114.286 pontos, influenciado pela aparente trégua entre os três Poderes, com a divulgação de uma carta à nação do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), redigida com o apoio do ex-presidente Michel Temer (MDB).

Em discursos realizados em Brasília e em São Paulo, no feriado de 7 de setembro, o presidente Jair Bolsonaro havia se referido aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso, como “canalhas”, sinalizou que desrespeitaria decisões judiciais e tornou a defender a adoção do voto impresso nas urnas eletrônicas.

Na quarta-feira (8), primeiro dia de pregão após as manifestações antidemocráticas realizadas no Dia da Independência, o Ibovespa registrou uma queda de 3,78%, a 113.413 pontos. Foi a maior queda diária do índice desde o dia 8 de março, quando o STF anulou as condenações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Mas, por volta das 17:00 da última quinta-feira (9), o Palácio do Planalto divulgou uma nota em que o presidente diz que as divergências se deram por causa de conflitos de entendimento sobre decisões do ministro Alexandre de Moraes, do STF, no âmbito do inquérito das fake news. Bolsonaro acrescentou ao texto que nenhuma autoridade tem o direito de "esticar a corda" e disse que suas palavras "por vezes contundentes" são resultado do "calor do momento".

O conteúdo da carta tranquilizou o mercado imediatamente. O Ibovespa encerrou o pregão com valorização de 1,72%, a 115.361 pontos. Na mínima do dia, o índice havia chegado a 112.435 pontos. Entretanto, as altas de ontem e hoje não foram suficientes para reverter a trajetória de perda semanal do índice, que acumulou queda de 2,12%.

“A semana se encerra muito mais tranquila do que começou”, avalia Victor Licarião, líder em produtos e alocação de renda variável da Blue3.

O comportamento do presidente, por ora, ameniza a tensão entre os investidores. Até mesmo as paralisações de caminhoneiros, realizadas em quinze estados do país num sinal de apoio a Jair Bolsonaro, se enfraqueceram desde o fim da noite de quinta-feira.

Em boletim divulgado na tarde desta sexta-feira (10), pelo Ministério da Infraestrutura, o fluxo nas rodovias federais está completamente livre, apenas com pontos de concentração e abordagem de motoristas no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Rondônia.

Inflação

Mas a crise institucional não foi o único pano de fundo para esse cenário. Licariao diz que a divulgação do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) em 0,87% no mês de agosto também mexeu com o ânimo dos investidores.

“O IPCA veio muito acima do esperado, num valor histórico para o mês com quase 1% de alta no mês passado. E ali a gente olha para algo não só relacionado à renda variável, mas também para a renda fixa, com expectativas de uma alta maior dos juros para a reunião do Copom [Comitê de Política Monetária] que acontece nos dias 23 e 24 de setembro”, diz.

Segundo Licarião, o mercado já trabalha com projeções de acréscimo de 1,25 p.p. à taxa básica de juros Selic. 

“Alguns elementos, como gasolina e energia elétrica, apresentaram alta, e não deram sossego com essa questão do arrocho inflacionário que a gente vive”, explica.

Internacional

De acordo com Victor Licarião, os investidores ainda monitoram as incertezas sobre a economia mundial.

Os EUA ainda trabalham com a possibilidade de adotar o programa de tapering - retirada de estímulos (compra de dívidas) do Federal Reserve - em breve. 

A variante Delta, do coronavírus, também preocupa investidores à medida que se dissemina fortemente em território norte-americano.

“O mercado começa a ligar esse radar sobre desenvolvimento da economia para os próximos meses. Será que vai continuar nesse ritmo de expansão? E se o Fed retirar esses estímulos, o mercado ainda vai reagir?”, questiona.